Representantes de cerca de 200 países estarão entre domingo e 18 de novembro em Sharm el-Sheikh, no Egito, para debater o aquecimento global, numa altura em que as alterações climáticas são já visíveis em todo o mundo.
A 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), acontece quando há uma guerra na Europa, que levou a uma crise económica, energética, inflacionista e alimentar.
A propósito da COP27, a Lusa falou com cinco organizações ambientalistas portuguesas, com algumas a serem mais pessimistas, não esperando decisões substanciais para conter o aquecimento global, e outras a falar do que consideram que de importante devia ser decidido nas próximas semanas.
O grupo Climáximo afirma-se contra a COP27 e apela para o seu boicote, porque o Egito "não permitiu espaço para a sociedade civil", pelo que esta conferência vai "ser pior do que as anteriores".
"A COP27 é uma zona de crime e as vítimas do crime, como as 33 milhões de pessoas afetadas pelas cheias no Paquistão, vão estar a olhar de fora. A COP27 vai ser só políticos a receberem ordens das empresas petrolíferas", diz Sinan Eden, ativista do movimento de jovens.
João Dias Coelho, presidente do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) é também pessimista ao dizer à Lusa que quanto à COP27 "as expectativas são baixíssimas".
Porque, justifica, se vivem momentos críticos a nível mundial, com uma guerra na Europa e com crises em países determinantes nas alterações climáticas. João Dias Coelho, fala da Rússia, que "está fora" devido à guerra na Ucrânia, fala da China, "que também não trará nenhuma novidade", fala de uma guerra que é também económica e de energia e que, na Europa, está a afastar os países dos objetivos de redução de gases com efeito de estufa (GEE).
"Estão de facto criadas condições para o falhanço da cimeira e, mais grave, estão criadas as condições para um substancial recuo na implementação de medidas de redução de emissões já assumidas", admite Jorge Palmeirim, presidente da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), acrescentando que "a guerra e sanções energéticas vão, pelo menos a curto prazo, resultar num retrocesso grave na luta contra as alterações climáticas", e que "o atual crescimento do consumo de carvão é já prova disso".
Jorge Palmeirim disse que gostaria de ver os governos na conferência de Sharm el-Sheikh "a enfrentarem de frente" o agravamento do problema das alterações climáticas, "assumindo compromissos de redução de emissões mais ambiciosos do que os assumidos no passado", e que os países mais ricos reforçassem o apoio a medidas de adaptação e mitigação dos países pobres.
Marta Leandro, vice-presidente da associação ambientalista Quercus, também espera da COP27 mais solidariedade norte-sul, mais ambição nas contribuições de cada país no controlo dos GEE, e que sejam "dados passos mais consistentes" por parte da União Europeia.
A responsável não valoriza o peso da guerra nas decisões da conferência da ONU e releva antes a dependência dos combustíveis fósseis. "A Quercus defende que temos de nos livrar dos combustíveis fósseis, porque sem isso não conseguiremos ter preços estáveis nos setores da energia e da alimentação", diz.
De Sharm el-Sheikh, acrescenta à Lusa, gostava de ver sair também um acordo equilibrado sobre compensação de perdas e danos, protegendo os países que menos contribuíram para as alterações climáticas, mas admite que não é fácil, quando a negociação é entre 200 países.
Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, tem o mesmo desejo. "Espera-se claramente que se finalize uma negociação quanto ao apoio a países em desenvolvimento na área de perdas e danos".
A propósito de a COP27 se realizar no Egito, o responsável lembra que África é um continente que sofre com as alterações climáticas, dá exemplos (como Moçambique), fala de outros continentes, todos com consequências do aquecimento global, concluindo que "as perdas e danos são uma prioridade máxima".
Face aos últimos dados oficiais de agravamento da emissão de GEE e de as contribuições para os diminuir não serem suficientes (as atuais contribuições levarão a um aumento da temperatura média de 2,8ºC - graus celsius -, segundo a ONU), Francisco Ferreira espera também que a COP27 faça uma reflexão sobre a trajetória da humanidade e sobre o Acordo de Paris, "já com orientações para os próximos anos".
E sobre a guerra lembra que as reuniões da ONU exigem sempre consenso, que não é fácil quando há países relevantes isolados ou separados. "Quando há uma segmentação tão clara as negociações refletirão isso mesmo", afirma.
"Temos um problema global que exige soluções globais. Temos um segundo problema que é o da prioridade das questões climáticas. Mesmo com a guerra não se pode perder a visão de que a crise verdadeiramente dramática a longo prazo não será a guerra mas serão as alterações climáticas", alerta Francisco Ferreira.
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