De acordo com a agência de notícias AFP, Teerão declarou que tal decisão teria "consequências negativas", enquanto os atritos com a União Europeia (UE) multiplicam-se há vários meses no contexto do movimento de protesto naquele país e da guerra na Ucrânia.
O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, declarou que a posição dos eurodeputados é inadequada e baseada numa "abordagem emocional", durante uma conversa telefónica com o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Para Amir-Abdollahian, a UE daria um "tiro no próprio pé" ao colocar o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (CGRI) na lista de organizações terroristas, considerado por especialistas como a força militar e de segurança mais poderosa do Irão.
"Temos dito muitas vezes que o CGRI é uma instituição oficial e soberana que desempenha um papel vital na garantia da segurança nacional do Irão e da região, especialmente na luta contra o terrorismo", explicou o ministro iraniano.
O Parlamento Europeu (PE) pediu na quarta-feira à União Europeia a inclusão da Guarda Revolucionária do Irão na 'lista negra' de organizações terroristas.
Os eurodeputados, reunidos em sessão plenária, "convidam a UE e os Estados-membros a incluir o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica na lista de terrorismo da União", lê-se no texto de uma alteração, amplamente aprovada, acrescentada a um relatório anual sobre a política externa comum.
O Irão está a ser confrontado por uma onda de protestos desde a morte, a 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma jovem curda-iraniana de 22 anos, que morreu três dias depois de ser presa pela polícia da moralidade em Teerão por suposto uso indevido do 'hijab', o véu islâmico.
Desde então, e na sequência dos protestos que se estenderam a todo o país, morreram já dezenas de pessoas, enquanto mais de 14.000 estão detidas e mais de uma centena foi condenada à morte, tendo já sido executadas pelo menos quatro.
Na segunda-feira, cerca de 12 mil pessoas de toda a Europa, incluindo de Portugal, manifestaram-se diante do Parlamento Europeu em Estrasburgo (leste da França) para exigir a inclusão da Guarda Revolucionária na 'lista negra', tal como já foi feito pelos Estados Unidos, tendo recebido o apoio da presidente do PE, Roberta Metsola.
Idênticas manifestações realizaram-se também em várias cidades da Europa, incluindo em Lisboa.
Hoje, espera-se que os eurodeputados reafirmem a exigência na votação de um relatório não legislativo dedicado exclusivamente à resposta europeia às manifestações e execuções no Irão.
Em última análise, a decisão -- complexa de implementar legalmente -- cabe ao Conselho Europeu (CE), o único com poderes para aplicar sanções. Alguns Estados-Membros declararam-se a favor, enquanto outros são mais cautelosos. Um quarto pacote de sanções contra o Irão estará em discussão na próxima reunião os ministros dos Negócios Estrangeiros em 23 de janeiro.
Criada em 1979 após a vitória da revolução islâmica no país, a Guarda Revolucionária possui forças terrestres, navais e aéreas com efetivos estimados em mais de 120 mil homens. Entre as funções atribuídas à Guarda estão a segurança do Golfo e do Estreito de Ormuz, por onde passam muitos petroleiros, e a gestão de programas de desenvolvimento balístico.
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