Andrei Kozyrev, o primeiro ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa após a dissolução da União Soviética, considerou, esta sexta-feira, que o presidente russo, Vladimir Putin, sabe que “desencadear uma guerra nuclear é suicida”, mas tem como objetivo "intimidar e humilhar" o Ocidente.
Numa série de publicações na rede social Twitter, o ex-ministro lembrou que, tal como ele próprio, Putin fez parte dos antigos serviços secretos russos - KGB - e, por isso, “sabe que após a crise dos mísseis cubanos, o Kremlin abandonou a doutrina ilusória de ganhar uma guerra nuclear”.
“[Putin] Herdou a realidade de uma destruição mútua em caso de conflito nuclear. Não mudou. Portanto, desencadear uma guerra nuclear é suicida. Mas ameaçá-la não é”, considerou Koryzev, que foi ministro entre 1990 e 1996, durante a presidência de Boris Yeltsin.
O ex-ministro citou uma série de conflitos entre Washington e Moscovo e, que “após muitas ameaças”, o Kremlin “concordou em negociar e proibir” as armas nucleares.
No entanto, em 2014, o presidente russo “anexou a Crimeia, parte de um país europeu,” e deu início a uma “guerra híbrida”. “Recordou ao Ocidente o seu arsenal nuclear e, de um modo geral, escapou à agressão”, escreveu.
Putin again threatened the West with nuclear weapons. The Biden Administration refuses to send long-range missiles and F-16 fighter jets to Ukraine.
— Andrei V Kozyrev (@andreivkozyrev) February 3, 2023
Both news broke out almost simultaneously. Coincidence? Causation. Thread of 8.
“O apetite vem com a comida, como diz o ditado russo. Há quase um ano que Putin invadiu e começou a destruir a Ucrânia. Duplicou as ameaças nucleares e os bombardeamentos de longa distância a cidades e infraestruturas ucranianas”, disse ainda.
Lembrando que o Ocidente se recusa a enviar mísseis de longo alcance e caças para a Ucrânia, Kozyrev afirmou que Putin “ataca de longe com impunidade” até “a Ucrânia sangrar até à exaustão”.
“Putin não quer cometer suicídio nuclear, mas sonha em intimidar e humilhar com sucesso o Ocidente, em contraste com os seus antecessores soviéticos. Esse é o seu objetivo estratégico, e não apenas a conquista da Ucrânia, que seria o primeiro passo para a grandeza”, considerou.
Andrei Kozyrev tem sido um crítico ativo da invasão russa da Ucrânia. Dias após o início da guerra, afirmou que a ação da Rússia era um “ato bárbaro” e que nunca poderia imaginar um acontecimento semelhante quando era ministro dos Negócios Estrangeiros. Antes, havia pedido aos diplomatas russos para se demitirem dos seus cargos como forma de protesto.
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