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Síria sem meios para acudir a vítimas de sismo, diz religiosa portuguesa

Uma religiosa portuguesa na Síria relatou à Lusa que este país está sem meios para acudir às vítimas do devastador sismo da semana passada, após quase 12 anos de guerra civil, exigindo a mobilização urgente da comunidade internacional.

Síria sem meios para acudir a vítimas de sismo, diz religiosa portuguesa
Notícias ao Minuto

09:04 - 12/02/23 por Lusa

Mundo Turquia/Sismo

Maria Lúcia Ferreira, uma religiosa portuguesa que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, em Qara, a norte da capital Damasco, descreve o cenário de "uma tragédia enorme" e confessou que, na Síria, se diz que "era preciso um ano de bombardeamentos para causar a destruição que foi feita em dois minutos".

"Se já começou a chegar ajuda, realmente não estou a par. Nós estamos a tentar ajudar, temos financiamento do exterior, sabemos que a ajuda tem vindo para a Turquia e para o norte da Síria, que está com os rebeldes. Mas é insuficiente, claro", sublinhou à Lusa a religiosa, mais conhecida como Irmã Myri.

Nas dezenas de imagens da destruição enviadas pela religiosa à Lusa através da rede social WhatsApp, vê-se a destruição de inúmeros edifícios e pessoas a tentarem encontrar sobreviventes.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, anunciou sábado, na cidade síria de Aleppo, a chegada de "quase 37 toneladas de suprimentos médicos de emergência", enquanto uma primeira caravana das Nações Unidas chegou às áreas controladas pelos rebeldes no noroeste da Síria através de um posto fronteiriço com a Turquia.

Apesar da chegada de ajuda às regiões controladas pelo Governo do Presidente Bashar al-Assad e pelos rebeldes, a religiosa alerta que esta "é ainda insuficiente".

A religiosa, que logo após o desastre partilhou um apelo de ajuda através da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), contou que muita gente ficou entre os escombros e que "não foram muitos os que foram salvos" na Síria.

"Também não havia meios para isso. Não há máquinas suficientes, não há combustíveis, muitos ficaram feridos durante a guerra e ainda mais pessoas feridas depois deste terramoto", realçou.

A OMS estima que mais de cinco milhões de pessoas foram afetadas em toda a Síria pelos sismos, enquanto mais de 300.000 "ficaram desalojadas" em apenas duas das províncias atingidas pelos terramotos.

A religiosa portuguesa realça que a comunidade internacional tem responsabilidade perante um país que vive há mais de uma década numa guerra civil que tem o envolvimento de 'atores' globais.

"É uma guerra que foi encorajada por muitas nações e se essas nações pudessem reparar um bocado, com ajuda humanitária, o que fizeram a este país durante mais de dez anos, isso seria qualquer coisa de muito reconfortante", frisou, em declarações enviadas à agência Lusa na madrugada de hoje.

A religiosa vincou que vai ser necessária "ajuda duradoura", porque a população tem de "reconstruir as suas casas, tem de voltar a confiar no futuro, ter que comer a cada dia e ter acesso à saúde e educação".

"[A comunidade internacional] Pode facilitar e ultrapassar os preconceitos políticos. O importante é que chegue a ajuda às pessoas que sofrem e que já não têm nada", salientou.

Esta religiosa portuguesa, que pertence às Monjas de Unidade de Antioquia, destacou ainda à Lusa que circula na Síria uma notícia importante, de que os Estados Unidos estarão a considerar levantar as sanções impostas à Síria até agosto.

"Isso é uma grande notícia, assim pode-se fazer transações bancárias, chegar ajuda internacional sem que seja bloqueada", vincou.

Longe do epicentro do sismo, a Irmã Myri revelou que na região onde se encontra foram sentidos vários abalos, apesar de "felizmente" não terem causado estragos.

"Houve quem sentisse às 13:30 do mesmo dia outro [sismo], e sentimos quarta-feira à noite outro sismo mais próximo de nós, em Damasco. Sentimos vários sismos, não há danos nenhuns, felizmente", acrescentou.

A Irmã Myri deixou ainda um apelo para a entrega de donativos, quer por transferência bancária, quer diretamente com o envio de contentores com comida, roupa ou cobertores, entre outros materiais que fazem falta ao país.

O número de mortos provocados pelos devastadores sismos que atingiram a Turquia e a Síria, na segunda-feira, superou já os 25 mil, sendo que o número de mortos na Síria é de 3.553, dos quais 2.166 registaram-se nas zonas rebeldes.

Leia Também: Número de mortos na Turquia e Síria vai "duplicar ou mais", diz ONU

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