"Claro que não vou fazer isso. Como poderia enviar um terrorista para os Estados Unidos?" respondeu Nayib Bukele, quando questionado pela imprensa na Sala Oval da Casa Branca, em Washington.
O Supremo Tribunal dos Estados Unidos ordenou na quinta-feira o regresso ao território norte-americano do salvadorenho Kilmar Ábrego García, que foi enviado para o Centro de Confinamento de Terroristas (Cecot) em El Salvador, apesar de ter uma ordem judicial contra a sua deportação.
As autoridades de migração dos Estados Unidos reconheceram ter deportado por engano Ábrego García, residente em Maryland e casado com uma cidadã norte-americana.
"Não o vou libertar. Não gostamos de libertar terroristas no nosso país", acrescentou Bukele, que disse que El Salvador se tinha tornado no Estado mais seguro do continente e que, se soltasse criminosos, voltaria a ser "a capital mundial dos assassínios".
Anteriormente, na mesma reunião, e questionada pelo próprio Trump, a procuradora-geral dos Estados Unidos, Pam Bondi, argumentou que o regresso de Ábrego García é da responsabilidade do Governo salvadorenho, uma vez que está agora sob a sua custódia.
"Isso é um problema de El Salvador se querem devolvê-lo, não depende de nós", disse Bondi.
No entanto, salientou que Ábrego García, que não tem antecedentes criminais nos Estados Unidos, é membro do gangue Mara Salvatrucha (MS-19) e vivia ilegalmente nos Estados Unidos desde 2019.
No mesmo encontro, Donald Trump agradeceu a Nayib Bukele por aceitar centenas de migrantes expulsos dos Estados Unidos sob acusações de terrorismo, a fim de resolver o problema das "fronteiras abertas" que diz ter herdado das administrações anteriores.
"Tínhamos pessoas estúpidas a governar este país, e posso dizer que o que nos fizeram na fronteira nunca deve e nunca será esquecido. O que fizeram foi um pecado, e vocês estão a ajudar-nos. Agradecemos", transmitiu Trump a Bukele.
Segundo o Presidente salvadorenho, os Estados Unidos têm um problema "com o crime e o terrorismo" e o seu país, apesar de pequeno, está disposto a ajudar, referindo-se a Trump como o "líder do mundo livre".
Os dois dirigentes reuniram-se hoje na Casa Branca com o foco em acordos de imigração.
O Presidente norte-americano já tinha recebido outros líderes latino-americanos desde o início do seu segundo mandato, em 20 de janeiro, mas esta é a primeira vez que um encontro se realiza na Casa Branca, em vez da sua residência privada em Mar-a-Lago, na Florida.
A reunião acontece numa altura em que El Salvador assinou um acordo com Washington para receber migrantes expulsos dos Estados Unidos e detê-los numa prisão de segurança máxima, em troca de um pagamento até seis milhões de dólares (5,2 milhões de euros) anuais.
O Cecot é uma prisão conhecida pelos abusos dos direitos humanos, e a legalidade do envio de migrantes para El Salvador tem sido posta em causa por organizações de defesa dos direitos civis, que apresentaram vários processos para bloquear a expulsão de mais pessoas para o país centro-americano.
A administração Trump enviou um total de 232 migrantes, a maioria venezuelanos, para o Cecot, acusando-os de pertencerem ao gangue criminoso Tren de Aragua (TdA).
De acordo com uma análise publicada na quinta-feira pela agência noticiosa Bloomberg, 90% dos mais de 200 homens detidos não têm antecedentes criminais nos Estados Unidos.
No âmbito da enorme ofensiva imigratória de Trump, Washington declarou que a TdA está a invadir o seu território e invocou uma lei de 1798, a Lei dos Inimigos Estrangeiros, para agilizar os procedimentos de deportação contra alegados membros da organização criminosa.
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