França. Greve contra reforma das pensões segue com cidades cheias de lixo
A greve geral dos trabalhadores franceses contra a reforma das pensões prossegue esta quarta-feira, com o setor de recolha do lixo em Paris parado até 20 de março e os sindicatos a prometerem paralisar mais setores nas próximas semanas.
© Edward Berthelot/Getty Images
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"Vamos continuar com o movimento, com estas greves e manifestações. Nalguns setores, há greves que vão ser reconduzidas ao longo de vários dias, como, por exemplo, os trabalhadores portuários que vão fazer uma greve de 72 horas pelo menos, mas também greves no setor da energia, nos transportes. [...] Vamos continuar, para já, esta semana. Mas porque não nas próximas semanas?", questionou Boris Plazzi, secretário confederal da CGT, em declarações à Agência Lusa.
Com dois meses de greves constantes, os protestos contra o aumento da idade da reforma continuam esta quarta-feira, num momento chave em que se reúne a comissão paritária de deputados e senadores para encontrar um acordo para o texto final.
Caso esta comissão consiga um acordo ainda na quarta-feira, o texto final deverá ser votado na manhã do dia seguinte no Senado e na quinta-feira à tarde no Parlamento.
Os sindicatos, unidos contra esta reforma desde o início da luta, já prometeram estar presentes à porta da Assembleia Nacional na quinta-feira.
O movimento contra a greve das reformas espera pelo menos 800 mil pessoas nas ruas de França quarta-feira, com a greve a manter-se em muitas regiões até quinta-feira e afetando principalmente o setor dos transportes, incluindo aviões, saúde, educação, portos e energia.
"Se pudermos continuar a pressionar a Assembleia Nacional, vamos fazê-lo, assim como os senadores, os diferentes poderes e, claro, Emmanuel Macron, já que esta é uma reforma que lhe pertence e está determinado a consegui-la", declarou à Lusa o sindicalista.
A greve chegou entretanto aos lixeiros, que na maior parte das cidades francesas estão há nove dias sem fazer a recolha ou tratamento do lixo.
Só em Paris, foram já contabilizadas mais de seis mil toneladas de lixo por recolher, algo que começa a impedir a circulação de automóveis na cidade e pode representar um perigo para a saúde pública.
"Quando para de trabalhar uma classe como os trabalhadores do lixo em Paris - que sempre trabalharam mesmo durante a [pandemia de] covid - e noutras cidades, é algo que incomoda todos os cidadãos e, efetivamente, a situação está cada vez pior. Mas isto só significa que o seu trabalho tem de ser reconhecido e valorizado", explicou Boris Plazzi.
Na capital, os lixeiros decidiram continuar a greve até 20 de março, com o governo civil a pedir à Câmara Municipal de Paris que pelo menos retire o lixo dos locais por onde vai passar o cortejo da manifestação desta quarta-feira que vai atravessar o centro da capital.
Há pelo menos três incineradoras que estão fechadas nos arredores de Paris e a autarca de Paris, Anne Hidalgo, que é socialista, diz-se solidária com este movimento.
Após o envio de uma carta ao Presidente Emmanuel Macron, em que 11 sindicatos pediam para negociar diretamente no Eliseu as condições desta reforma, e com o chefe de Estado a responder que só os receberá depois de a lei ser aprovada, os responsáveis destas estruturas temem agora que os protestos ganhem os mesmos contornos que o movimento dos 'coletes amarelos' entre 2018 e 2019.
"Para além da raiva contra esta reforma, há uma raiva muito forte da população em relação aos salários, devido à elevada inflação, e eu acho que o [segundo] mandato de Emmanuel Macron começa muito mal. E esta raiva pode transformar-se em algo mais radical, mais furioso e isso vai acontecer fora do quadro sindical e é disso que temos receio, como aconteceu com os 'coletes amarelos'", alertou Boris Plazzi.
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