Turquia "preocupada" com detenção do líder do Ennahdha na Tunísia

A Turquia manifestou-se hoje "preocupada" com a detenção, segunda-feira, do líder do partido conservador islâmico tunisino Ennahdha e antigo presidente do Parlamento da Tunísia, Rached Ghannouchi.

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Lusa
20/04/2023 19:33 ‧ 20/04/2023 por Lusa

Mundo

Tunísia

"Cremos que este tipo de ações contra políticos e representantes de diferentes segmentos da sociedade não contribui para a paz social na Tunísia", lê-se numa nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros turco.

Já na passada terça-feira, numa intervenção na televisão estatal turca, o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, tinha lamentado a detenção do "irmão" Ghannouchi, 81 anos, tendo então prometido interceder em favor do líder do Ennahdha junto das autoridades de Tunes e também das de Argel, diligências de que se desconhecem quaisquer resultados.

Desde que Erdogan chegou ao poder em 2003, a Turquia manteve relações especialmente boas com os partidos da órbita da Irmandade Muçulmana, como é o caso do Ennahdha, na Tunísia.

A Turquia juntou-se assim às vozes da União Europeia (UE) e da Comissão Internacional de Juristas (CIJ), França e Estados Unidos, que, quarta-feira, também protestaram contra a detenção do líder islâmico, ocorrida dois dias antes.

Vários membros do Ennahdha, que foi a principal força parlamentar durante a última legislatura, foram detidos ou investigados desde que o Presidente da Tunísia, Kais Saied, assumiu plenos poderes em julho de 2021, depois de suspender o Parlamento e de dissolver o executivo, passando a governar por decreto.

Mais de uma dezena de membros do partido estão em prisão preventiva por supostos crimes de corrupção e conspiração, enquanto outros, como Ghannouchi, têm processos ainda em aberto.

Hoje, porém, as autoridades judiciais tunisinas confirmaram a prisão do líder do Ennahdha, partido que rejeitou todas as acusações de que Ghannouchi é alvo, com um juiz de instrução a emitir um mandado de prisão por incitamento à guerra civil, após um interrogatório de mais de nove horas.

Ghannouchi foi detido após declarar, no fim de semana, que a Tunísia estaria sob ameaça de uma "guerra civil" se os partidos políticos de esquerda ou islâmicos, como o Ennahdha, fossem eliminados do cenário político.

Numa nota, o Ennahdha rejeitou qualquer intenção do líder partidário de apelar à guerra civil, afirmando "condenar veementemente uma decisão injusta, que visa encobrir o fracasso total do poder em melhorar as condições económicas dos cidadãos".

O Ennahdha descreveu Ghannouchi como "um símbolo nacional que passou a maior parte da sua vida a resistir à ditadura através de uma luta pacífica".

Terça-feira, o líder da Frente de Salvação Nacional (FSN, coligação da oposição que integra o partido islamita), Ahmed Neyib Chebi, adiantou que, poucas horas depois de ser detido na sua própria residência pelas forças de segurança locais, Ghannouchi foi hospitalizado, desconhecendo-se desde então o seu estado de saúde.

Ghannouchi é o opositor de maior destaque a ser detido desde o golpe constitucional realizado pelo Presidente da Tunísia, em julho de 2021.

A detenção de Ghannouchi ocorreu também depois de as autoridades locais terem encerrado, ainda na terça-feira, a sede e as delegações em todo o país do Ennahdha e da FSN.

Segundo um dos responsáveis da FSN, dois outros líderes do Ennahdha, Mohamed Goumani e Belgacem Hassan, também foram presos na noite de segunda-feira.

Desde o início de fevereiro, as autoridades tunisinas prenderam mais de 20 opositores e personalidades da sociedade civil, nomeadamente ex-ministros, empresários e o dono da rádio mais ouvida do país, a Mosaique FM.

Kais Saied, acusado pela oposição de uma deriva autoritária, qualificou os detidos como "terroristas", alegando que estavam envolvidos numa "conspiração contra a segurança do Estado".

Leia Também: UE preocupada com novas detenções pede pluralismo político na Tunísia

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