Um progresso, referiu num discurso por ocasião do 21.º aniversário da restauração da independência, que representaria a melhor forma de honrar os heróis nacionais que lutaram durante décadas pela independência de Timor-Leste.
"Progressos derivam de lideranças legítimas, competentes, corajosas, com visão e abertura ao mundo, com conhecimentos sólidos da economia, tudo enquadrado num plano estratégico de desenvolvimento moderadamente ambicioso, com políticas claras, que encorajam o investimento nacional e estrangeiro", afirmou José Ramos-Horta.
"Continuando esse marasmo que se arrasta há 20 anos, a alternativa será Timor-Leste ser relegado para o estatuto miserável de um 'basket-case' ['caso bicudo'], apropriado por crime organizado, de violência, e classificado de Estado falhado", afirmou.
José Ramos-Horta falava nas cerimónias oficiais no Palácio Presidencial, em Díli, na véspera das quintas eleições legislativas do país. Após apelar ao voto massivo, vincou os "grandes desafios, riscos, perigos", mas também oportunidades para Timor-Leste.
"Líderes terão de saber identificar os grandes desafios, riscos e oportunidades. Líderes têm de saber definir as grandes prioridades nacionais, e permanecer focados", afirmou.
"Países que investem fortemente numa educação orientada para este novo ordenamento mundial, dominado pela digitalização e inteligência artificial, recolherão benefícios e vantagens. Uma das lições de sucessos está na cuidadosa identificação dos desafios e definição clara das prioridades e concentrar na realização dessas prioridades com um forte equipa técnico-política", disse.
Entre os desafios globais, Ramos-Horta destacou as questões que estão a ser levantadas sobre o futuro da 'dolarização' da economia mundial, aspeto que afetará Timor-Leste, onde o dólar americano é a moeda oficial, bem como outros países de economias emergentes.
Por isso, pediu que as decisões sejam feitas de forma ponderada, tendo em conta os constrangimentos orçamentais, e com um Governo de políticos e gestores escolhidos com base na sua competência técnica e profissional e no seu conhecimento.
"Os atuais recursos não renováveis vão ter de continuar a ser utilizados para financiar a nossa transição para a economia verde. Temos de acelerar a implementação do projeto Greater Sunrise, mas Greater Sunrise e outros não podem ser a 'vaca leiteira' para cobrir políticas irresponsáveis", afirmou Ramos-Horta.
"O nosso país está num 'ranking' miserável do Banco Mundial no que concerne à celeridade na aprovação de investimentos. (...) Em Timor-Leste, as instituições do Estado são as obstaculizadoras, travão dos investimentos", disse.
Neste quadro questionou, em particular, o futuro da democracia e das instituições democráticas, apontando o dedo a ações de "assalto ao Estado por falsos partidos políticos, infiltrados nas instituições" públicas.
Ramos-Horta definiu ainda o que considerou serem objetivos no topo da agenda nacional, com investimento adequado, liderança de qualidade e monitorização permanente.
"Vamos intensificar a igualdade de género, corrigir os desequilíbrios sociais, eliminar a extrema pobreza e a subnutrição infantil, promover programas de apoio às crianças e juventude ou vamos assistir ao acentuar das injustiças sociais?", questionou.
"Vamos priorizar o desenvolvimento rural, a pequena e média agricultura e com ela garantir independência alimentar, uma nutrição saudável, água potável e saneamento, uma saúde para todos, educação de qualidade desde o pré-primário?", vincou.
Ramos-Horta recordou os momentos emotivos de 20 de maio de 2002, em que líderes de todo o mundo se juntaram na tribuna de honra com alguns dos principais dirigentes timorenses para ver nascer o mais jovem país do século 21.
"Depois de 500 anos de presenças estrangeiras, de dominação e sofrimento, e também de enriquecimento social, cultural e de formação da nossa nação. Sobrevivemos às tragédias, aprendemos com elas, tornámo-nos mais fortes", disse.
O chefe de Estado recordou os líderes ainda vivos e os muitos que tombaram, no passado, nas lutas pela independência do país, desde Dom Boaventura, régulo de Manufahi, a Francisco Xavier do Amaral e Nicolau Lobato, vincando o papel histórico da Fretilin e o de Xanana Gusmão, que relançou a luta, e ainda o da Igreja Católica, "refúgio e esperança nos anos negros" da história do país.
Essa cerimónia de 2002, recordou, contrastou com a da proclamação da independência a 28 de novembro de 1975, com a cidade de Díli de então, "esquecida pelo mundo, deserta, com a incerteza e o medo a pairar no ar".
"A comunidade internacional estava totalmente ausente. Nenhum dignitário estrangeiro, nenhum emissário especial. Nós estávamos sós, muito sós", recordou.
"Decorreram 24 anos, 200 mil mortes depois (...) os desígnios de Deus realizaram-se, o que era uma impossibilidade tornou-se possível, o sonho tornou-se uma realidade. Mas o povo pagou um preço nunca antes cobrado a algum povo", disse.
Depois vieram anos de "penúria, austeridade, rigor fiscal e orçamental", e um conjunto de "desafios multifacetados e complexos a cada etapa da construção do Estado, processo onde "não há corta-mato, não há como encurtar o caminho".
"Vinte e um anos depois, Timor-Leste está em paz e tranquilidade, entre nós mesmos, e com os nossos vizinhos e o resto do mundo", afirmou.
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