Reeleição de Erdogan gera inquietação nas zonas curdas da Síria
A reeleição de Recep Tayyip Erdogan como Presidente da Turquia está a provocar inquietação nas zonas sob administração curda no norte da Síria, nomeadamente em Qamichli, pois são repetidas as ameaças de ataques turcos na região, foi hoje relatado.
© REUTERS/Bernadett Szabo
Mundo Eleições na Turquia
"Enquanto curdos, não queríamos que Erdogan fosse reeleito", resumiu hoje em declarações à agência noticiosa France-Presse (AFP) Hozan Abou Bakr, proprietário de uma loja de roupa, a propósito das suas preocupações quanto às repercussões do resultado das eleições presidenciais de domingo na Turquia.
"Queríamos (o candidato da oposição) Kemal Kiliçdaroglu, não porque seja melhor, mas porque se aliou aos curdos e talvez não seja tão mau como Erdogan", acrescentou Abou Bakr, 30 anos.
Os curdos na Turquia -- cerca de um quinto dos 85 milhões de habitantes do país -- votaram maioritariamente a favor de Kiliçdaroglu, o líder do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), que foi derrotado domingo na segunda volta das presidenciais turcas.
Durante toda a campanha eleitoral, Erdogan atacou constantemente o seu rival, apelidando-o de "terrorista", devido ao apoio que recebeu dos líderes do Partido Democrático dos Povos (HDP, esquerda e definido como pró-curdo).
Povo sem Estado, os curdos estão espalhados pela Turquia, Iraque, Síria e Irão tendo, na sequência da guerra civil síria, criado uma administração autónoma em grande parte do norte e do nordeste do território sírio.
No entanto, receiam que Erdogan cumpra as repetidas ameaças de atacar estas zonas curdas e temem uma aproximação entre Damasco e Ancara.
Desde 2016, a Turquia lançou três grandes ofensivas em solo sírio contra as forças curdas no norte, o que lhe permitiu controlar uma faixa de fronteira de 120 quilómetros de comprimento no lado sírio.
Em novembro, Ancara também levou a cabo uma campanha de ataques contra combatentes curdos no norte da Síria e ameaçou com uma ofensiva terrestre.
A Turquia classifica como uma organização "terrorista" o Partido da União Democrática (PYD), cujo braço armado, o YPG, liderou a luta contra o grupo Estado Islâmico (EI) no norte da Síria com o apoio dos Estados Unidos, para grande desagrado da Turquia.
"A vitória de Erdogan é, sem dúvida, uma evolução negativa para os curdos, especialmente na Síria", disse à AFP o analista curdo Mutlu Civiroglu.
Na sua opinião, os curdos sírios terão de lidar com "mais ataques de 'drones' [aparelhos aéreos não tripulados]" e com o "aumento do poder dos grupos armados sírios apoiados pela Turquia".
"Os curdos já estão numa situação difícil, que vai piorar, porque o Governo de Erdogan vê os curdos como uma ameaça à segurança nacional", continuou Civiroglu.
Erdogan, aliás, tem tentado nos últimos meses aproximar-se do homólogo sírio, Bashar al-Assad, nomeadamente através da mediação russa, o que, segundo o analista curdo, é "mais uma preocupação para os curdos sírios".
"Não podemos prever as ações de Erdogan, mas qualquer aproximação a Bashar al-Assad será feita à custa dos curdos", disse à AFP Saleh Muslim, copresidente do PYD.
Por seu lado, Bashar al-Assad exigiu como condição prévia para qualquer encontro com Erdogan a retirada das forças turcas estacionadas no norte da Síria, controlado pelos rebeldes, e o fim do apoio de Ancara aos grupos que se opõem a Damasco.
"Parece que Erdogan vai continuar com a sua política anterior e temos de estar preparados para todas as eventualidades", acrescentou Saleh Muslim, para quem o plano do reeleito Presidente turco baseia-se na "erradicação dos curdos em todo o lado, incluindo os curdos da Síria, se for possível".
Na segunda volta das presidenciais turcas, Erdogan obteve 52,1% dos votos, derrotando o social-democrata Kemal Kiliçdaroglu (47,9%) após terem sido contados 99,5% dos votos, segundo a Comissão Eleitoral local.
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