"É catastrófico. Antes, sabíamos onde se encontravam os perigos. Hoje, já não sabemos", lamentou o responsável da unidade Contaminação por armas do CICV, Erik Tollefsen, durante a apresentação perto de Genebra de um novo 'drone' que utiliza inteligência artificial para reparar minas e outros objetos explosivos a partir do calor que emitem.
Este 'drone' -- que durante um dia pode cobrir a mesma superfície que faria em seis meses um cão especialista em desminagem -- apenas foi testado durante experiências na Jordânia, mas o CICV espera utilizá-lo pela primeira vez nos arredores de Alepo, na Síria.
Com o objetivo de que este pequeno aparelho possa numa ocasião próxima sobrevoar a Ucrânia, onde a Rússia desencadeou em 2022 uma operação militar em larga escala, o CICV fornece desde há meses a sua ajuda às equipas de socorro responsáveis pela desminagem, através do apoio a operações de cartografia e de localização e no fornecimento de material e formação.
"Hoje, tudo foi levado pelas águas", indicou Tollefsen, pelo facto de estas águas "arrastarem estas minas" antipessoais e antiveículos para locais desconhecidos.
"Tudo o que sabemos é que se encontram em qualquer parte no sentido da foz. É uma grande preocupação porque vai afetar as populações e ainda os que vão em sua ajuda", como as ambulâncias, explicou o especialista norueguês.
A ONU alertou na terça-feira contra os riscos relacionados com as minas, muito numerosas nesta região em disputa, e o CICV também se inquieta pelo facto de água não alterar o mecanismo de acionamento destas armas explosivas, mesmo durante décadas.
De acordo com Tollefsen, "numerosos campos de minas defensivas foram colocadas pelas partes em conflito" na região de Kherson, uma cidade recuperada pelos ucranianos em novembro passado e situada a sul da barragem.
O CICV desconhecem o número de minas que pode ter sido disperso pelas águas. "As partes em conflito não declararam o número de minas que colocaram. Apenas sabemos que esses números são enormes", alertou Tollefsen.
Moscovo e Kiev rejeitam a responsabilidade do ataque na barragem que alimenta a Crimeia de água, anexada pela Rússia em 2014, e encontra-se na rota das tropas ucranianas para uma reconquista dos territórios ocupados.
A destruição desta infraestrutura implicou o desvio de torrentes de água no rio Dniepre, forçando milhares de civis a abandonarem as zonas inundadas e fazendo recear uma catástrofe ecológica.
Esta destruição da barragem é "um símbolo da necessidade de respeitar o direito humanitário internacional", considerou hoje a suíça Mirjana Spoljaric Egger, presidente do CICV.
"Os prejuízos já são consideráveis", disse no decurso da apresentação do 'drone' de detetor de minas.
Este novo instrumento não retirará as minas mas deve acelerar a sua deteção devido às suas câmaras, um detetor de calor e um programa de inteligência artificial que a organização pretende partilhar.
"Trata-se de um avanço pelo facto de cobrir vastas zonas e a uma velocidade muito mais elevada" que os homens ou os cães, revelou Martin Jebens, especialista em armamento do CICV.
"Nas operações de desminagem, o número médio por cada atuação é de 50 metros quadrados. Segundo avaliações prudentes, este novo utensílio deverá permitir estudar e tratar 100.000 metros quadrados por dia", precisou a chefe do CICV.
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