"As autoridades senegalesas devem proceder imediatamente a uma investigação independente e transparente sobre a morte de pelo menos 23 pessoas, incluindo três crianças, durante as manifestações violentas de 1 e 2 de Junho", declarou hoje aquela organização não-governamental (ONG) num comunicado.
O número de vítimas mortais registado pela Amnistia Internacional (AI) na capital, Dacar, e na cidade de Ziguinchor, sul do país, ultrapassa o número oficial fornecido pelo Ministério do Interior senegalês, que anunciou até agora um total de 16 mortos.
De acordo com testemunhas, familiares e com acesso a algumas certidões de óbito, vários dos mortos foram abatidos a tiro.
Dois dos menores que morreram em Dacar e Ziguinchor, com 16 e os 17 anos, estavam a participar nas manifestações, enquanto um deles morreu quando regressava do trabalho, confirmou à agência de notícias EFE o investigador da AI, Ousmane Diallo.
A ONG apelou à "clarificação da presença de homens armados e à civil que atuam ao lado das forças de segurança" e que, munidos de armas, atacam "violentamente" os manifestantes.
"O Estado não deve permitir a presença de indivíduos não identificados como membros das forças da ordem nas operações de aplicação da lei, nem o uso da força", disse Seydi Gassama, director executivo da Amnistia Senegal.
"Estas são violações claras do Direito internacional", acrescentou.
No entanto, numa conferência de imprensa realizada no domingo, a polícia senegalesa negou a presença de membros das forças de defesa ou de segurança em trajes civis e acusou elementos de "forças ocultas" do estrangeiro de se terem infiltrado entre os manifestantes.
As manifestações tiveram início na passada quinta-feira e prosseguiram na sexta-feira e, em menor escala e intensidade, no sábado e na segunda-feira na maioria dos bairros de Dacar e das principais cidades do país, na sequência do anúncio, a 01 de junho, da condenação a dois anos de prisão por corrupção de menores do líder da oposição Ousmane Sonko.
Sonko foi julgado em 23 de maio, depois de ter sido acusado no início de 2021 por uma jovem massagista, Adji Sarr, de "violações repetidas" e "ameaças de morte", acusações de que foi absolvido pelo tribunal, que o considerou culpado, no entanto, do crime de corrupção de menores (aplicável quando jovens entre os 18 e os 21 anos são vítimas de abusos, segundo o Código Penal senegalês).
A condenação poderá impedir o líder da oposição de concorrer às eleições presidenciais previstas para fevereiro de 2024.
Sonko denunciou a "instrumentalização" da justiça pelo Presidente Macky Sall, eleito em 2012 e reeleito em 2019, para o impedir de concorrer às presidenciais de 2024.
Conhecido pelo seu discurso "antissistema", o líder da oposição critica a má governação, a corrupção e o neocolonialismo francês, e conta com uma forte adesão da juventude senegalesa.
Também hoje em Dacar, o Governo senegalês convidou o corpo diplomático para dar a sua versão dos acontecimentos.
"O Senegal é um país de abertura, transparência e verdade. Abertura significa que falamos com a comunidade internacional, transparência significa que lhes dizemos exatamente o que está a acontecer e verdade significa que podemos trocar opiniões", declarou a ministra dos Negócios Estrangeiros, Aïssata Tall Sall, na presença de várias dezenas de diplomatas estrangeiros reunidos no ministério em Dacar.
A ministra disse estar pronta para uma discussão "sem tabus, sem tergiversações" antes de a reunião prosseguir sem a presença dos jornalistas.
O ministério declarou que tinha preparado uma brochura para os diplomatas com a versão do executivo sobre os acontecimentos.
As autoridades senegalesas mostraram-se preocupadas com o impacto na imagem do país dos distúrbios, que estão a dar origem a narrativas diametralmente opostas por parte do Governo e da oposição.
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