Espera-se que Trump se declare inocente perante um juiz, dando início a um processo legal que se desenrolará no auge da campanha presidencial de 2024 e que poderá trazer profundas consequências não apenas para o seu futuro político, mas também para a sua própria liberdade pessoal.
O ex-presidente chegou cerca de uma hora antes da audiência, agendada para as 15h00 (hora local, 20h00 em Lisboa) num tribunal federal em Miami, na Florida, estado onde Trump reside e onde tem uma forte base de apoiantes.
Já dentro do tribunal, Trump deverá passar por um protocolo que inclui tirar impressões digitais.
Apesar de normalmente os réus federais comparecerem em tribunal algemados e serem obrigados a tirar uma fotografia de rosto, isso não aconteceu com Trump quando marcou presença numa audiência num tribunal de Manhattan, em abril passado, num caso de alegado suborno a uma atriz de filmes pronográficos.
Na audiência de hoje, é esperado que o ex-presidente e candidato republicano às presidenciais de 2024 se declare inocente, após ouvir os 37 crimes federais dos quais é acusado.
Centenas de jornalistas de todo o mundo reuniram-se em frente ao tribunal de Miami, num sinal da natureza extraordinária do evento, uma vez que Trump é o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a ser indiciado criminalmente pela justiça federal, por se ter apropriado ilegalmente de documentos confidenciais e ter dificultado os esforços do Departamento de Justiça para recuperar esses registos.
Apesar do forte interesse nacional e internacional, o juiz responsável pelo caso negou o pedido feito por um grupo de órgãos de comunicação para permitir o registo em fotografia e em vídeo de parte da audiência devido ao grande interesse e importância para o público.
O juiz Jonathan Goodman respondeu "não" ao pedido feito por órgãos como The New York Times, Los Angeles Times, NBC, CBS, ABC, CNN, Bloomberg, Politico, entre outros, que pediam uma "quantidade limitada" de fotos e vídeos e que o tribunal fornecesse gravações de áudio da audiência de Trump e de futuras sessões relativas ao caso.
Por sua vez, Trump tem abordado a acusação com os já habituais ataques através das redes sociais, onde tem criticado a investigação e alegado inocência, ao insistir que não fez nada de errado e está a ser perseguido por motivos políticos.
Na Truth Social, a sua rede social, Trump sugeriu que a equipa do procurador Jack Smith, responsável pelo processo, "provavelmente 'plantou' informações nas 'caixas'" com documentos secretos apreendidas na sua mansão.
"Um dos dias mais tristes da história do nosso país. Somos uma nação em declínio!!!", escreveu ainda o ex-presidente antes de chegar ao tribunal, no qual entrou através de um túnel e, portanto, não foi visto pelos jornalistas, nem pelos seus apoiantes.
Após a audiência de hoje, Trump viajará para Nova Jérsia, onde realizará uma angariação de fundos privada.
Em janeiro de 2021, após perder a eleição presidencial para Joe Biden, Trump deixou a Casa Branca para se instalar na sua luxuosa residência em Mar-a-Lago, na Florida, e levou consigo dezenas de caixas, onde se encontravam cerca de 200 documentos classificados, e que acabaram amontoadas num salão de baile, casas de banho ou despensas, segundo a acusação divulgada na sexta-feira.
Pressionado a devolver os documentos pelo Arquivo Nacional, órgão que tem como dever legal guardar todos os arquivos presidenciais, Trump restituiu 15 caixas, um ano depois.
Em junho de 2022, agentes da polícia federal norte-americana (FBI) dirigiram-se à mansão do magnata para recuperar 38 documentos confidenciais adicionais. Convencidos de que ainda faltava algo, os agentes federais regressaram em agosto do mesmo ano, desta vez munidos de um mandado de busca.
O FBI saiu da Florida com cerca de trinta caixas, contendo 11.000 documentos, incluindo segredos nucleares norte-americanos e um plano de ataque militar contra uma potência estrangeira.
Leia Também: Documentos secretos? Trump hoje em tribunal para audiência histórica