Credibilidade da investigação do 'Qatargate' questionada pela defesa

Um risco de conflito de interesses forçou o juiz belga responsável pelo chamado 'Qatargate' a retirar-se, uma reviravolta que põe em dúvida a credibilidade da sua investigação anticorrupção, alertaram esta terça-feira as equipas jurídicas de vários suspeitos.

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© Nicolas Economou/NurPhoto via Getty Images

Lusa
20/06/2023 23:19 ‧ 20/06/2023 por Lusa

Mundo

Qatargate

"Esta situação levanta enormes e óbvias questões sobre a imparcialidade de todos os atos de investigação que foram realizados até agora", apontaram os advogados da eurodeputada grega Eva Kaili, uma das figuras do escândalo sobre alegados subornos pagos pelo Qatar, por Marrocos e outros países para obter influência no Parlamento Europeu (PE).

Esta segunda-feira à noite, o Ministério Público Federal anunciou que o juiz Michel Claise decidiu retirar-se da investigação "por precaução", sendo que o processo irá recair agora sobre "outro juiz de instrução, que já interveio no caso em diversas ocasiões anteriores".

"Recentemente surgiram elementos que podem levantar dúvidas sobre o funcionamento objetivo da investigação", explicou a Procuradoria-Geral belga em comunicado, sublinhando ainda a necessidade de "separar vida privada e familiar e responsabilidades profissionais".

De acordo com vários meios de comunicação social belgas, o filho mais velho do juiz Claise está associado a uma empresa de comercialização de canabidiol (CBD) com o filho da eurodeputada belga Marie Arena.

Esta informação foi confirmada à agência France-Presse (AFP) por fonte ligada ao processo.

O nome de Marie Arena, familiar do italiano Pier Antonio Panzeri, um dos acusados, foi abordado rapidamente após o escândalo surgiu.

Em 09 de dezembro de 2022, a polícia belga apreendeu durante uma série de buscas em Bruxelas - em particular nas casas de Panzeri e Kaili - cerca de 1,5 milhão de euros em malas e sacos.

Próxima de Panzeri e das fileiras socialistas no PE, tal como Kaili e o belga Marc Tarabella, também acusado, Marie Arena foi citada na investigação, mas nunca questionada por Michel Claise, o que surpreendeu vários suspeitos.

Esta eleita belga, filha de pai siciliano, garantiu em janeiro que não tinha "nada pelo que se envergonhar" e justificou a sua saída da presidência do subcomité de Direitos Humanos do PE pelo desejo de não prejudicar o trabalho deste órgão.

Desde então, tem sido discreta nas bancadas da única instituição eleita da UE, analisou ainda a AFP.

Por sua vez, Maxim Töller, advogado de Tarabella, garantiu hoje que esteve na origem da descoberta do conflito de interesses pela ligação entre o filho do juiz e o filho de Arena, tendo procurado forçar Michel Claise a retirar-se por colocar em causa "a confiabilidade e a legalidade dos atos de investigação".

Também Sven Mary e Michalis Dimitrakopoulos, advogados de Eva Kaili, denunciaram "omissões deliberadas", enquanto as investigações associavam Arena a Panzeri.

Tarabella, libertado esta primavera após dois meses em prisão preventiva, foi implicado por Panzeri, que o acusou de ter recebido grandes somas em dinheiro.

O ex-eleito italiano também isentou Marie Arena de qualquer responsabilidade, mas para Maxim Töller, as suas declarações não são confiáveis.

Um total de seis suspeitos já foram indiciados desde dezembro. Um sétimo, o eurodeputado italiano Andrea Cozzolino, chegou à Bélgica esta segunda-feira para ser ouvido.

Leia Também: Qatargate. Juiz responsável afasta-se para evitar dúvidas na investigação

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