"Estes ataques têm um impacto muito além da Ucrânia. Já estamos a ver o efeito negativo nos preços mundiais do trigo e do milho, o que prejudica a todos, especialmente as populações vulneráveis do 'Sul global'", alertou o porta-voz, destacando que a "destruição das infraestruturas civis [pode] representar uma violação do direito humanitário internacional".
Dujarric apontou que os ataques russos também contradizem os compromissos que Moscovo assumiu no âmbito do entendimento que assinou com as Nações Unidas para tentar facilitar as suas próprias exportações de alimentos e fertilizantes, documento paralelo à Iniciativa dos Cereais do Mar Negro que o Kremlin suspendeu esta semana.
Em teoria, esse memorando ainda está em vigor e, lembrou a ONU, o seu texto diz que a Rússia "facilitará a exportação de alimentos, óleo de girassol e fertilizantes de portos controlados pela Ucrânia no Mar Negro".
Na quarta-feira à noite, a Rússia atacou Odessa, pelo terceiro dia consecutivo, e a região de Mikolayiv, no sul da Ucrânia, com mísseis de cruzeiro e 'drones' (aparelhos aéreos não tripulados) suicidas que mataram pelo menos dois civis em ambas as províncias e feriram outras 27 pessoas.
Já no ataque da manhã de terça-feira, a Rússia destruiu infraestruturas nos portos de Odessa e Chornomorsk - ambos parte do acordo dos cereais - destruindo 60.000 toneladas de alimentos que deveriam ter sido exportados para a China.
Depois de suspender o acordo do Mar Negro, a Rússia disse que considerará todos os navios com destino aos portos ucranianos como potenciais transportadores de armas e, portanto, potenciais alvos militares legítimos.
A ONU, por sua vez, reiterou hoje que continuará a procurar formas de os produtos alimentares e fertilizantes ucranianos e russos chegarem aos mercados internacionais, a fim de manter a estabilidade de preços e evitar o aumento da fome nos países mais desprotegidos.
A Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, acordada há um ano pela Rússia, Ucrânia, Turquia e Nações Unidas, permitiu a exportação de quase 33 milhões de toneladas de alimentos de três portos no sul ucraniano.
As autoridades russas fizeram saber que só voltam ao protocolo se as suas condições forem atendidas, nomeadamente o comércio dos seus próprios produtos agrícolas, prejudicado, segundo frisam, pelas sanções ocidentais.
As exigências da Rússia incluem também a reintegração do seu banco agrícola, Rosselkhozbank, no sistema bancário internacional SWIFT, o levantamento das sanções sobre as peças sobresselentes para a maquinaria agrícola, o desbloqueamento da logística de transportes e dos seguros, o descongelamento de ativos e a reabertura do oleoduto de amoníaco Togliatti-Odessa, que explodiu a 05 de junho.
Leia Também: Guterres alerta para riscos e impactos da IA na paz mundial