"Abaixo o golpe de Estado" e "liberdade para todos os opositores presos", gritaram cerca de 300 manifestantes reunidos na capital tunisina, a pedido da Frente de Salvação Nacional (FSN), a principal coligação da oposição, que inclui o partido islamita e conservador Ennahdha, crítico feroz de Saied.
Enfrentando uma vaga de calor sem precedentes na Tunísia (quase 50 graus na segunda-feira em Tunes e quase 45 hoje), os manifestantes expressaram também a sua cólera contra um "poder judicial sob ordens" do chefe de Estado.
Perante a multidão, o presidente da FSN, Ahmed Nejib Chebbi, um veterano político de 78 anos, denunciou o "fracasso total" de Saied na gestão do país, o que, sustentou, agravou a situação financeira da Tunísia.
O porta-voz do Ennahdha, Imed Khemiri, lamentou "o regresso de uma política de intimidação" que, acrescentou, "restringe a liberdade de expressão e afeta igualmente os meios de comunicação social".
"É o que o 'regime do 25 de julho' [de 2021] tem vindo a fazer nos últimos dois anos", acrescentou.
Há dois anos que a oposição organiza regularmente manifestações contra a "deriva autoritária" do presidente tunisino, desde o que qualifica como "golpe de Estado" de 25 de julho de 2021, quando dissolveu o parlamento e demitiu o primeiro-ministro.
A mobilização não cessou, mesmo depois de uma vaga de detenções lançada em fevereiro, que visou líderes políticos proeminentes, incluindo o líder do Ennahdha e antigo presidente do parlamento dissolvido, Rached Ghannouchi.
Detidos foram igualmente vários empresários, bem como o diretor da Radio Mosaïque, Noureddine Boutar, que foi entretanto libertado sob fiança.
Duas figuras da oposição, Chaima Issa e Lazhar Akremi, foram recentemente libertadas, mas todos continuam sob investigação judicial.
A maioria está a ser julgada por "conspiração contra a segurança do Estado" e foi apelidada de "terrorista" por Saied.
A crise política desencadeada pela posição de força de Saied, inicialmente apoiado por muitos tunisinos, está a preocupar as organizações não-governamentais (ONG) tunisinas e internacionais, que lamentam a regressão das liberdades.
"Desde que o presidente tomou o poder, as autoridades prosseguiram a via da repressão, prendendo dezenas de opositores políticos e críticos do regime, desprezando a independência do poder judicial e abolindo as garantias institucionais dos direitos humanos", condenou a Amnistia Internacional num relatório publicado na segunda-feira.
Segundo a ONG, que considera "falsas" as acusações contra os detidos, Saied "privou os tunisinos dos direitos fundamentais por que tanto lutaram para conseguir [durante a revolução democrática de 2011] e alimentou um clima de repressão e impunidade".
Vários jornalistas e magistrados são também objeto de processos judiciais.
A Tunísia está também abalada por uma profunda crise financeira e está a procurar ajuda externa.
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