O presidente Ali Bongo Ondimba, 64 anos, que concorre a um terceiro mandato, desta vez de cinco anos, ao contrário de sete nos dois anteriores, enfrenta 13 candidatos, entre os quais, o escolhido tardiamente pelos principais partidos da oposição e relativamente desconhecido, Albert Ondo Ossa, 69 anos, ex-ministro do pai de Ali - Omar Bongo - entre 2006 e 2009, e que apenas teve seis dias para se apresentar aos eleitores.
Ondo Ossa, que apenas no passado domingo foi escolhido pela principal plataforma da oposição, a coligação Alternância 2023, reúne a mensagem comum de mudança, muito presente nos comícios da oposição durante a campanha eleitoral, iniciada no passado dia 11 e que termina hoje, bem como propostas centradas em questões sociais e dirigidas especialmente aos jovens.
Seis candidatos presidenciais integrados na Alternância 2023 - incluindo três dos principais rivais de Bongo - retiraram as respetivas candidaturas a favor de Ondo Ossa, reduzindo o número de candidatos da oposição de 18 para 13.
Ausência notável destas eleições é a do candidato que liderou a oposição nas eleições presidenciais de 2016, Jean Ping, que, depois de obter 48,23% dos votos contra 49,80% de Bongo, optou por se afastar depois de considerar que as eleições foram "manipuladas antecipadamente".
Pela primeira vez, os eleitores deste pequeno país centro-africano, muito rico em petróleo e pouco povoado (2,3 milhões de habitantes), votam em três eleições no mesmo dia: presidenciais, legislativas e municipais.
As duas primeiras são combinadas numa única votação através de um único boletim de voto para os candidatos a presidente e a deputado do mesmo partido, uma decisão fortemente criticada pela oposição, que denuncia a existência de uma "manobra fraudulenta" destinada a favorecer o campo de Bongo, desrespeitando "a liberdade de voto" e "a separação de poderes", e por isso garante a repetição das legislativas, caso vença as presidenciais.
A Alternância 2023 pede aos eleitores que "ignorem" as legislativas e se concentrem na eleição presidencial, "a única questão em jogo nas eleições".
Ondo Ossa, "candidato de consenso" da Alternância 2023, apresenta-se como "independente", ou seja, sem partido e, por conseguinte, sem qualquer candidato a deputado no mesmo boletim de voto.
A outra alteração das regras eleitorais criticada pela oposição, desde que foram decididas há cinco meses, é a da passagem do escrutínio de duas para uma volta, permitido ao candidato mais votado ser eleito por maioria relativa.
A medida garante, teoricamente, a Bongo uma vantagem sobre 13 outros candidatos.
O atual chefe de Estado foi eleito em 2009, após a morte do seu pai, Omar Bongo Ondimba, que governou o país durante mais de 41 anos. Ali foi depois reeleito em 2016, mas por uma estreita margem de apenas 5.500 votos sobre o adversário Jean Ping, que denunciou a existência de "fraude".
O "todo-poderoso" Partido Democrático Gabonês (PDG), partido único até 1990, quer desta vez evitar aquele cenário, sendo que leva uma forte vantagem comunicacional, muito por responsabilidade da oposição, que se uniu muito tardiamente.
Na passada quarta-feira à noite, ainda não havia cartazes que apresentassem o discreto professor de economia Albert Ondo Ossa aos eleitores de Libreville, cujas ruas estão literalmente monocoloridas, desde há duas semanas, com o retrato do Presidente Bongo e as cores do PDG.
Em contrapartida, há vários meses que o chefe de Estado percorre todas as províncias do país, utilizando "recursos estatais" consideráveis, como o acusa a oposição.
Ondo Ossa, um economista reputado, tem-se apresentado muito à vontade nos seus discursos públicos, mas é pouco conhecido nos bairros populares, entre a classe média e os jovens, à exceção dos estudantes da Universidade de Libreville, onde leciona como professor associado.
Tendo em conta o apelo da Alternância 2023 ao boicote das legislativas e a omnipotência do PDG, não surpreenderá que o parlamento gabonês volte a ser largamente preenchido por deputados do campo Bongo, que já dispõe de uma maioria esmagadora na Assembleia Nacional cessante.
Por isso também, Ondo Ossa prometeu dissolver a futura câmara baixa se for eleito presidente.
O Gabão é um dos países mais ricos de África em termos de Produto Interno Bruto (PIB) per capita - 8.820 dólares em 2022 -, graças, nomeadamente, ao petróleo, ao manganês e à madeira.
Não obstante, apesar de reconhecer os esforços do regime, o Banco Mundial sublinha que o executivo de Ali Bongo não conseguiu diversificar a economia suficientemente, pelo que o Gabão importa praticamente todos os produtos acabados e géneros alimentícios que consome.
"Apesar do seu potencial económico, o país luta para traduzir a riqueza dos seus recursos num crescimento sustentável e inclusivo", e um terço (32,9%) dos seus habitantes vive abaixo do limiar da pobreza, escreveu a instituição em abril de 2023.
A organização internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF) condenou hoje a "proibição" imposta aos meios de comunicação social estrangeiros pelas autoridades gabonesas, que recusaram "qualquer acreditação" para a cobertura das eleições presidenciais e legislativas deste sábado.
"As autoridades gabonesas recusaram todos os pedidos de acreditação de repórteres estrangeiros que desejavam cobrir as próximas eleições gerais" e estes "estão proibidos de entrar no país", escreveu a RSF num comunicado de imprensa datado de quinta-feira e hoje divulgado pela agência France-Presse.
A Repórteres sem Fronteiras "condena esta decisão absurda, que constitui um atentado ao pluralismo da informação", acrescenta a organização.
Leia Também: Ali Bongo concorre a terceiro mandato nas presidenciais do Gabão