"O Sudão já não se encontra à beira do precipício das atrocidades em larga escala, caiu nele", alertaram os cossignatários da declaração, que apela ao envio de ajuda e exige a solidariedade e atenção à crise globais.
"O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve passar do discurso à ação e iniciar negociações para aprovar uma resolução que dê resposta ao clima de impunidade, reitere que o direito internacional, exija o acesso humanitário seguro e sem obstáculos e redirecione os esforços internacionais para proteger melhor os mais vulneráveis do Sudão", afirmam os líderes das organizações não-governamentais (ONG).
Cinco meses após o início dos combates em Cartum, a capital do Sudão, o conflito, repleto de violações dos direitos humanos, alastrou-se ao Darfur e aos estados do Cordofão do Sul e do Nilo Azul.
A violência sexual está a aumentar, os civis enfrentam ataques generalizados, deliberados e indiscriminados, e os jornalistas e defensores dos direitos humanos estão a ser silenciados, alertam no texto.
"O Conselho de Segurança das Nações Unidas, que tem o Sudão na ordem do dia há décadas, ainda não aprovou uma única resolução substantiva sobre a crise atual", acusam as ONG.
"Perante as atrocidades crescentes no Sudão, o Conselho de Segurança negligenciou a sua responsabilidade de responder com firmeza", afirma Tirana Hassan, diretora executiva da Human Rights Watch, citada na declaração.
"O principal órgão do mundo para a paz e segurança internacionais não deve permanecer em silêncio diante de graves crimes internacionais", acrescenta a ativista.
Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional, afirma, por sua vez, que "o Conselho de Segurança não pode continuar a desviar o olhar: deve exigir um aumento significativo do apoio humanitário ao Sudão e alargar o atual embargo de armas a todo o Sudão e garantir a sua aplicação."
O apelo dos líderes das organizações dos direitos humanos, a que se referiram como uma tentativa de "fazer soar o alarme", foi lançado hoje para coincidir com uma reunião do Conselho de Segurança sobre a situação no Sudão.
Mais de 20 milhões de pessoas no país, 42% da população sudanesa, enfrentam insegurança alimentar aguda e seis milhões estão a um passo da fome. Pelo menos, 498 crianças morreram de fome.
Hospitais e médicos têm sido alvo de ataques em todo o Sudão e cerca de 80% dos principais hospitais do país ficaram fora de serviço desde 15 de abril, quando começaram as hostilidades abertas em Cartum.
Mais de cinco milhões de pessoas foram obrigadas a fugir das suas casas e centenas de milhares de outras estão em risco de se lhes juntar em breve.
"Nos últimos meses, temos visto os campos de refugiados onde trabalhamos no Chade ficarem repletos de pessoas forçadas a abandonar as suas casas", afirma Mark Hetfield, presidente e diretor executivo da organização de proteção dos refugiados HIAS, também citado no texto conjunto.
Os deslocados do Darfur "estão a chegar com fome, feridos e traumatizados, precisam de assistência e proteção urgentes, mas também precisam que o mundo se mobilize para pôr fim à violência", acrescenta Hetfield.
Niemat Ahmadi, presidente e fundadora do Darfur Women's Action Group, recorda que "o mundo prometeu que nunca mais permitiria a ocorrência de genocídios e de outras atrocidades massivas no continente africano" depois do Ruanda em 1994.
Não obstante, o Darfur chocou o mundo em 2003 pelas mesmas razões e, "apesar da indignação global, os seus responsáveis nunca foram levados à justiça", prossegue a ativista.
"É de partir o coração ver os mesmos padrões em ação novamente. Desta vez, crimes internacionais tão graves não devem ficar impunes", conclui Ahmadi.
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