"Fiquei surpreendida por o seu Governo -- de forma descoordenada com o Governo italiano -- ter alegadamente decidido apoiar, com fundos substanciais, organizações não-governamentais (ONG) envolvidas na receção de migrantes irregulares em território italiano e em resgates no Mar Mediterrâneo", escreveu Giorgia Meloni na carta enviada a Olaf Scholz.
"Ambas as possibilidades levantam questões", afirmou a líder italiana.
Na missiva, a primeira-ministra italiana sublinhou que os países da União Europeia (UE) deveriam concentrar-se em soluções estruturais para a questão dos migrantes.
"Acredito que os esforços, incluindo financeiros, dos Estados da UE interessados em dar apoio concreto à Itália deveriam antes concentrar-se na construção de soluções estruturais para o fenómeno migratório", referiu.
Como exemplo, Meloni apontou a possibilidade de a UE estabelecer um acordo com todos os países de trânsito da costa sul do Mediterrâneo, "o que exigiria menos recursos do que aqueles [que são canalizados] há algum tempo para a Turquia".
A Alemanha anunciou, na sexta-feira passada, que ia financiar ONG de apoio a migrantes e refugiados que desembarquem em Itália e que se encontrem neste país.
Está "iminente" o financiamento de centenas de milhares de euros para um projeto de assistência a migrantes em terra, em Itália, e outro para uma ONG que efetua salvamentos "no mar", disse, nesse dia, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão.
Na mesma ocasião, o porta-voz da diplomacia alemã sublinhou que "resgatar pessoas em perigo no mar é um dever legal, humanitário e moral".
A intenção de Berlim foi recebida com "grande estupefação" por Roma, que decidiu, de imediato, pedir esclarecimentos junto das autoridades alemãs.
Segundo fontes próximas do Governo italiano, citadas pela agência de notícias Ansa, "o financiamento pela Alemanha de atividades de ONG em território italiano seria uma grave anomalia" e o apoio à transferência de imigrantes irregulares em Itália "representaria uma anomalia gravíssima nas dinâmicas que regulam as relações entre Estados a nível europeu e internacional".
Itália, a par da Grécia, Espanha ou Malta, é um dos países da "linha da frente" ao nível das chegadas de migrantes irregulares à Europa.
O país está integrado na chamada rota do Mediterrâneo Central, encarada como uma das mais mortais, que sai da Tunísia, Argélia e da Líbia em direção ao território italiano, em particular à ilha de Lampedusa, e a Malta.
Durante o mês de setembro, a pequena ilha de Lampedusa atingiu recordes históricos ao nível das chegadas de imigrantes irregulares. Em apenas três dias, chegaram cerca de 10 mil migrantes à ilha siciliana.
No passado dia 17 de setembro, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, visitou a ilha e anunciou na mesma ocasião um plano de ação para enfrentar a imigração irregular.
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