Numa das primeiras entrevistas com uma refém libertada, Ruti Munder, de 78 anos, disse na segunda-feira à televisão israelita Channel 13 que passou todo o tempo com a filha, Keren, e o neto, Ohad Munder-Zichri, que celebrou o seu nono aniversário em cativeiro.
A família foi sequestrada em 07 de outubro da sua casa em Nir Oz, um kibutz no sul de Israel, tendo sido colocada num veículo e levada para Gaza juntamente com o seu marido, Avraham, de 78 anos, que ainda não foi libertado.
Enquanto estava em cativeiro, Munder soube pela rádio de um militante do Hamas que o seu filho tinha sido morto no ataque, segundo uma reportagem do Channel 13. Mesmo assim, manteve a esperança de que seria libertada.
Duas estações de televisão israelitas noticiaram que o líder máximo do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, visitou os reféns num túnel e assegurou-lhes que não seriam feridos.
Inicialmente, os reféns comeram "frango com arroz, todo o tipo de comida enlatada e queijo", revelou, mas cedo começaram a faltar produtos básicos.
Confirmando os relatos de familiares de outros prisioneiros libertados, Munder revelou que dormiram em cadeiras de plástico, ela cobria-se com um lençol, mas nem todos os prisioneiros tinham um e alguns rapazes dormiam no chão.
A atmosfera no quarto onde esteve presa era "sufocante" até que conseguiu abrir uma janela.
Munder, libertada na sexta-feira, regressou em boas condições físicas, tal como a maioria dos prisioneiros libertados, que se têm mantido afastados do público desde o seu regresso.
Nesta ronda de libertações, foram libertadas sobretudo mulheres e crianças, que têm sido submetidos a testes físicos e psicológicos em hospitais israelitas antes de regressarem a casa.
Itai Pessach, diretor do Hospital Pediátrico Edmond e Lily Safra do Sheba Medical Center, onde muitas das crianças libertadas foram tratadas, manifestou algum otimismo porque os reféns estavam a recuperar fisicamente. Mas, afirmou que a equipa médica tinha ouvido "histórias muito difíceis e complexas do tempo que passaram em cativeiro no Hamas", sem entrar em pormenores.
"Compreendemos que, apesar de parecerem estar a melhorar fisicamente, há um caminho muito longo a percorrer até estarem curados", indicou.
Os franco-israelitas, Erez e Sahar Kalderon, de 12 e 16 anos, e Eitan Yahalomi, de 12, chegaram a Israel na segunda-feira à noite.
A ministra francesa dos Negócios Estrangeiros, Catherine Colonna, disse na rádio RTL que os três menores franceses libertados aparentavam estar de boa saúde física, referindo-se ao "choque psicológico" da sua longa detenção.
"Eitan passou por alguns horrores lá", disse Deborah Cohen, tia do menor, à BFMTV. "Quando chegou a Gaza, os civis espancaram-no", apesar de "ser uma criança de 12 anos", lamentou, com base nas trocas de impressões com a mãe do sobrinho.
"O Hamas obrigou-o a assistir" aos abusos cometidos e filmados a 07 de outubro pelos seus combatentes. "Cada vez que uma criança chorava, ameaçavam-na com uma arma para a calar", contou.
"Queria ter esperança que ele (Eitan) fosse bem tratado. Pelos vistos, não. Eles são uns monstros", disse Cohen.
"Ontem, estávamos tão felizes (com a sua libertação). Mas agora que sei isto, estou preocupada. O pai dele ainda lá está", admitiu.
"Como é que nos podemos sentir bem depois de uma experiência destas? Ele tem um longo caminho a percorrer", disse, acrescentando que é uma criança calma e "vai demorar algum tempo até que as suas emoções venham ao de cima".
Mirit Regev, cuja filha de 21 anos, Maya, foi libertada no domingo, disse à emissora pública israelita Kan que a família foi aconselhada a "devolver-lhe o poder" nas suas interações, pedindo-lhe sempre autorização antes de qualquer coisa, como sair da sala. O filho de Regev, Itai, de 18 anos, continua detido pelo Hamas.
Numa entrevista separada, a tia de um refém israelo-russo de 25 anos que foi libertado também no domingo contou que o sobrinho fugiu dos seus captores e escondeu-se em Gaza durante alguns dias antes de ser recapturado.
"Ele disse que foi levado por terroristas e que o levaram para um edifício. Mas o edifício foi destruído (pelos bombardeamentos israelitas) e ele conseguiu fugir", disse Yelena Magid, tia de Roni Krivoi, à rádio Kan na segunda-feira.
Numa conversa telefónica, o sobrinho disse-lhe que conseguiu esconder-se durante cerca de quatro dias antes de ser descoberto.
"Uma coisa que nos deu esperança desde o início é que ele é um rapaz que está sempre a sorrir e que consegue resolver qualquer situação", disse Magid.
Estes reféns faziam parte das cerca de 240 pessoas capturadas em Israel durante os ataques de 07 de outubro, 50 das quais foram libertadas até agora no âmbito de um acordo de cessar-fogo que pôs termo aos combates em troca de cerca de 150 palestinianos detidos em prisões israelitas.
Os relatos surgem no momento em que Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas concordaram em prolongar as tréguas. O acordo inclui também um aumento da ajuda humanitária em Gaza.
Israel declarou guerra após o ataque transfronteiriço do grupo militante islâmico a 07 de outubro, no qual morreram 1.200 pessoas e 240 foram feitas reféns. A ofensiva israelita causou a morte de mais de 13.000 palestinianos, de acordo com as autoridades sanitárias do território dirigido pelo Hamas.
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