A cerimónia fúnebre, transmitida em direto pela estação televisiva estatal italiana Rai, decorreu na basílica de Santa Giustina, cuja capacidade foi limitada a 1.200 lugares, tendo o município de Pádua, na região de Veneto, instalado dois grandes ecrãs no exterior, dado serem esperadas mais de 10 mil pessoas na praça Prato della Valle, para prestarem uma última homenagem à jovem estudante universitária de 22 anos morta pelo ex-namorado, Filippo Turetta, de 21 anos, a 11 de novembro passado.
Num dia em que foi decretado dia de luto na região de Véneto, com as bandeiras dos edifícios públicos colocadas a meia haste, a Universidade de Pádua, onde Giulia Cecchettin estudava e deveria ter concluído o curso de engenharia biomédica a 16 de novembro, suspendeu as aulas, tendo a reitora marcado presença no funeral, bem como várias figuras do Estado, entre as quais o ministro da Justiça, Carlo Nordio.
À saída do caixão da basílica, a multidão concentrada na praça - que, segundo as autoridades, superou a estimativa de 10 mil pessoas - correspondeu ao pedido feito pela família de Giulia para que fizessem barulho durante um minuto, "num desafio à indiferença face ao femicídio", com longos aplausos, chocalhos e gritando o nome da jovem.
O assassinato de Giulia, a 105ª mulher morta em Itália desde o início do ano em curso, teve um impacto particular no país, em virtude dos contornos brutais do crime - a jovem sofreu 20 ferimentos de arma branca na cabeça e no pescoço, concluiu a autópsia - e, sobretudo, devido ao facto de envolver dois jovens estudantes universitários oriundos de famílias da classe média.
A morte da jovem estudante às mãos do seu ex-namorado - que se encontra detido em Itália depois de ter sido capturado na Alemanha e já confessou o crime perante um juíz - lançou um debate político em Itália sobre a violência sobre as mulheres e a cultura patriarcal no país, que é liderado atualmente por uma mulher pela primeira vez na sua história, a primeira-ministra Giorgia Meloni, o que não impediu que o atual governo cortasse em 70% o financiamento de medidas de prevenção de violência machista.
Este caso levou a que a líder da oposição em Itália, atualmente também uma mulher, Elly Schlein, do Partido Democrático (centro-esquerda), se dirigisse a Meloni num apelo para que, por uma vez, deixem as diferenças políticas de lado para enfrentar o problema da misoginia e da violência contra as mulheres.
"Deixemos de lado o confronto político e tentemos fazer com que o país dê um passo em frente. A repressão não é suficiente se não fizermos prevenção. Aprovemos imediatamente uma lei no parlamento para introduzir a educação sobre o respeito e a afetividade em todas as escolas de Itália", exortou Schlein.
Hoje, no final da cerimónia fúnebre em Pádua, também o pai da vítima apelou a medidas para fazer face ao fenómeno, numa intervenção emocionada.
"Temos de transformar a tragédia num impulso para a mudança. A vida de Giulia foi cruelmente colhida, mas a sua morte pode e deve ser o ponto de viragem para pôr fim ao terrível flagelo da violência contra as mulheres", declarou Gino Cecchettin, na mensagem lida no final do funeral.
Dias após ter sido confirmado o assassinato de Giulia Cecchettin, cerca de meio milhão de pessoas manifestaram-se nas ruas de Roma, Milão, Turim e outras grandes cidades de Itália, por ocasião do Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres.
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