Segundo as autoridades locais, cerca de 19 mil pessoas, 70% dos quais mulheres, adolescentes e crianças, morreram em resultado dos bombardeamentos israelitas seguidos de invasão terrestre no enclave controlado pelo Hamas, a que se somam milhares de desaparecidos e cerca de 1,9 de milhões de deslocados, de acordo com a ONU, que relata um território privado de água, comida, medicamentos, energia e comunicações e em colapso.
Num quadro de devastação que o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, descreveu como apocalíptico e superior à Alemanha pós-guerra, Israel garante que vai prosseguir a sua ofensiva, com ou sem apoio internacional, até eliminar o Hamas e a sua rede de túneis, uma missão que o ministro da Defesa, Yoav Gallant, admite que pode levar "mais do que alguns meses".
A determinação de Telavive não foi moderada por uma resolução não vinculativa aprovada por uma maioria esmagadora da Assembleia-Geral da ONU a exigir um cessar-fogo humanitário imediato, após o Conselho de Segurança ter falhado uma decisão no mesmo sentido, graças ao veto dos Estados Unidos.
A reunião do Conselho de Segurança foi pedida pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que, pela terceira vez na história da organização, invocou o instrumento mais poderoso à sua disposição - o artigo 99.º da Carta das Nações Unidas -- para o efeito.
O líder da ONU já tinha denunciado repetidamente a situação catastrófica no território, declarando que "Gaza é um cemitério de crianças", o que levou Telavive a questionar a sua imparcialidade e a pedir a sua demissão.
Apesar do veto e de apoiar a ofensiva israelita, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, alertou que Telavive está a perder o apoio internacional devido aos seus "bombardeamentos indiscriminados" e criticou o executivo chefiado por Benjamin Netanyahu por ser "o mais conservador da história" do Estado judaico.
Por outro lado, o primeiro-ministro israelita reconheceu que há um desacordo com o seu principal aliado sobre o futuro da Faixa de Gaza, já que Israel rejeita a proposta dos Estados Unidos para que a Autoridade Palestiniana, que governa pequenas partes da Cisjordânia ocupada, assuma o controlo do enclave após a guerra iniciada com o ataque surpresa do Hamas.
Às primeiras horas de 07 de outubro, três mil combatentes do Hamas infiltram-se por terra, mar e ar no sul de Israel, atacando em simultâneo o território israelita com milhares de 'rockets' e 'drones'.
Quase sem resistência, os homens do Hamas massacraram comunidades ('kibutz') localizadas perto do pequeno enclave e irromperam pelo recinto de um festival de música e por bases militares, transmitindo 'online' o seu desfile de violência e crueldade, que deixou, segundo as autoridades israelitas, 1.200 mortos e mais de 200 reféns levados para a Faixa de Gaza.
Os israelitas despertaram naquele sábado de 'Shabat' e feriado em choque e incrédulos com o maior ataque de sempre no seu território e com o clamoroso falhanço das forças de segurança e do já débil Governo radical de Netanyahu, que no mesmo dia lançou a operação "Espada de Ferro" com três objetivos: garantir a segurança de Israel, recuperar os reféns e exterminar o Hamas.
A brutalidade do conflito ultrapassou fronteiras em manifestações de sinal contrário em todo o mundo e frequentemente acompanhadas de expressões antissemitas ou islamofóbicas, a par das movimentações diplomáticas das principais potências, a começar pelos Estados Unidos, maior aliado de Telavive, e dos atores regionais no mundo árabe, Turquia e Irão e ainda as milícias do chamada "Eixo da Resistência", incluindo o grupo xiita libanês Hezbollah e os iemenitas Huthis, que visam regularmente Israel com os seus 'drones' e mísseis.
A pressão internacional conduziu a uma trégua de quatro dias renováveis até dez, com início em 24 de novembro, mas que durou apenas uma semana. Nesse período, o acordo, mediado por Qatar, Egito e Estados Unidos, permitiu a libertação de 105 reféns israelitas e estrangeiros em troca de 240 prisioneiros palestinianos, todos mulheres e menores, e a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
No primeiro dia de dezembro, o panorama voltou à casa de partida, com as forças israelitas a alargarem a sua ofensiva para o sul do território, onde todos os locais se tornaram inseguros.
Com 2023 a chegar ao fim, o conflito traz incógnitas sobre o seu desfecho e o destino dos cerca de 130 reféns ainda em cativeiro, o futuro da Faixa de Gaza, do Hamas e do próprio Netanyahu, além da questão de fundo sobre o estatuto da Palestina.
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