Em declarações a um grupo de jornalistas em Jerusalém, Philippe Lazzarini, que lidera a UNRWA desde 2020, afirmou que muitos habitantes do território palestiniano já não estão em condições de encarar "o futuro na Faixa de Gaza".
"Centenas de milhares de pessoas vivem agora nas ruas, em tendas improvisadas feitas de pedaços de plástico, ou dormem no cimento", descreveu, após regressar da sua quarta visita à Faixa de Gaza desde o início da guerra.
A ONU calcula que 1,9 milhões dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza tiveram de abandonar as suas casas.
Segundo Lazzarini, 60% dos edifícios em todo o território foram destruídos ou danificados, com a zona norte do enclave palestiniano a ser particularmente afetada.
Os jornalistas da agência francesa AFP puderam constatar que dezenas de blocos de apartamentos tinham desmoronado na sequência dos bombardeamentos.
"Para nós, o norte é um concentrado de catástrofe humanitária", resumiu o diretor da UNRWA, referindo-se a "um campo de munições não deflagradas e de escombros, onde nenhum serviço funciona".
Israel jurou "aniquilar" o Hamas depois de um ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano ter provocado a morte de cerca de 1.140 pessoas do lado israelita, a maioria civis, a 07 de outubro, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelitas.
Em retaliação, Israel declarou guerra ao Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que entretanto se estendeu ao sul.
A guerra entre Israel e o Hamas, que continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 24 mil mortos, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais controladas pelo grupo islamita palestiniano.
Enquanto as autoridades israelitas preveem uma longa guerra, meio milhão de crianças entre os seis e os 14 anos já não têm acesso à educação.
"O meu receio é que tenhamos agora uma geração de crianças perdida. Devemos preocupar-nos com isto se estamos a falar de um futuro de paz, segurança e coexistência. Quanto mais esperarmos, mais riscos corremos para o futuro. Quando falamos sobre a reconstrução de Gaza, não é como o que vimos antes", lamentou o diretor da UNRWA, referindo-se a guerras anteriores que eram contadas em dias ou semanas.
"Não vejo nenhum país a concordar em investir significativamente na ausência de um projeto político e de um roteiro sólido", concluiu Lazzarini.
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