Um dia depois de 15 estados e um território terem votado na "Super Terça-Feira" das primárias de ambos os partidos, numa espécie de tiro de partida formal para as eleições presidenciais de 05 de novembro, Biden parece ter recuperado nas últimas semanas alguma da sua popularidade e aparece nas sondagens ligeiramente à frente do seu provável rival republicano.
O discurso do Estado da União na quinta-feira (madrugada de sexta-feira em Portugal), transmitido para numerosos países, servirá para Biden ensaiar um repto aos eleitores, desafiando-os a fazerem um balanço do seu mandato presidencial e tomarem partido, entre a sua visão do país e do mundo e a dos conservadores republicanos, de acordo com previsões divulgadas nas últimas horas pelos 'media' norte-americanos, a partir de excertos do discurso que foram disponibilizados pela Casa Branca.
Biden aproveitará para perguntar de que lado estão os norte-americanos no conflito na Ucrânia, ou na luta pela preservação do direito ao acesso ao aborto, ou na diminuição dos custos do acesso à saúde, segundo os excertos divulgados.
O Presidente norte-americano aproveitará também para se referir aos índices económicos e sociais positivos que o país atingiu, após três anos de liderança democrata.
Nestes campos, Biden poderá referir a diminuição do desemprego, para menos de 4%, o pico dos índices das bolsas de valores ou a queda na criminalidade violenta, que atingiu o nível mais baixo das últimas cinco décadas.
Contudo, de acordo com informações divulgadas pelos 'media' norte-americanos, o líder democrata não deverá omitir que permanecem divergências profundas dentro do país e até dentro do próprio Partido Democrata, como aquelas que emergiram da avaliação ao posicionamento da Casa Branca perante o conflito no Médio Oriente, onde está longe de ser consensual o apoio ao Governo israelita de Benjamin Netanyahu no seu ataque massivo contra o grupo islamita Hamas em Gaza.
Os conselheiros da campanha de Biden recordam que o discurso do Estado da União poderá ser a última oportunidade antes da Convenção do Partido Democrata para garantir ao Presidente uma audiência de dezenas de milhões de espetadores, apesar de a edição do ano passado ter sido a menos visionada da história recente deste evento político.
Os republicanos já começaram a preparar as tradicionais reações pós discurso do Presidente, antecipando que Biden utilize este palco para tentar realçar os sucessos do seu mandato e aproveitando para criticar a forma como a oposição republicana tem atuado, nomeadamente no Congresso, onde tem obstaculizado pacotes de ajuda à Ucrânia e ameaçado paralisar o funcionamento do Governo por falta de fundos.
Biden tem estado a trabalhar com Michael Sheehan, um "treinador de discursos" ('speech coach'), que no passado trabalhou com os ex-presidentes democratas Bill Clinton e Barack Obama, apostando que a oratória do discurso do Estado da União pode ser uma peça decisiva no lançamento da campanha de reeleição.
Pessoas próximas de Biden já admitiram que Biden está preocupado em conseguir fazer passar a imagem de um Presidente seguro e confiante, depois de recentes sondagens terem indicado que dois terços dos eleitores consideram que, aos 81 anos, ele não tem condições físicas e mentais para terminar um segundo mandato.
No discurso, Biden poderá eventualmente aproveitar para apresentar também algumas das suas futuras bandeiras de campanha, em particular a proposta de uma revisão da legislação tributária, que favoreça a classe trabalhadora.
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