Kyiv apela aos eleitores nas regiões ocupadas que não votem numa "farsa"

A Ucrânia criticou hoje as eleições presidenciais russas nos territórios ucranianos ocupados de Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson, bem como na Crimeia anexada, e apelou aos seus cidadãos para não votarem numa "farsa".

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© Getty Images/NATALIA KOLESNIKOVA

Lusa
15/03/2024 19:24 ‧ 15/03/2024 por Lusa

Mundo

Rússia/Eleições

A vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshchuk, pediu aos residentes das áreas ocupadas, que representam cerca de 20% do país, que evitem "por todos os meios" participar nas eleições russas, que começaram hoje e se prolongam até domingo.

"Os ocupantes podem escolher quem quiserem e dizerem o que quiserem na sua justificação. O principal é que os cidadãos ucranianos evitem participar nesta farsa", disse a governante no início da votação de três dias na Rússia.

Vereshchuk destacou que a Rússia "não respeita quaisquer direitos, liberdades, normas ou convenções internacionais" naquelas regiões, e instou os residentes das áreas ocupadas "a fazerem todo o possível para abandoná-las.

As eleições presidenciais russas nos territórios ocupados não são apenas ilegítimas, nada têm a ver com eleições reais, disse à agência EFE Petro Andryushchenko, conselheiro do autarca legítimo da cidade ocupada de Mariupol, no sudeste da Ucrânia.

"Não se trata apenas da sua ilegalidade. O facto é que não têm quaisquer características de eleição", considerou.

Enquanto a Rússia procura legitimar a sua ocupação dos territórios ucranianos aos olhos dos seus cidadãos, criando uma imagem de ampla participação e apoio ao Presidente russo, Vladimir Putin, quaisquer dados sobre a participação eleitoral não terão sentido e serão muito distantes da realidade, afirma.

"Não pode haver dados fiáveis simplesmente porque não existem listas de eleitores. E realizar eleições, mesmo ilegais, sem essas listas é um absurdo", sublinha Andriushchenko, acrescentando: "É um absurdo que os cidadãos ucranianos elejam o Presidente da Federação Russa".

Como muitos destes cidadãos elegíveis têm vários passaportes, podem facilmente votar quantas vezes quiserem, devido à falta de um controlo eficaz.

"Pela nossa experiência, um membro da resistência conseguiu votar 15 vezes", disse Andriushchenko.

De acordo com Katerina Mijalevska, analista da OPORA, uma ONG que se concentra em práticas eleitorais, a Rússia está a utilizar as eleições para testar a lealdade dos restantes residentes na Ucrânia ocupada e a forçá-los a votar.

Nas áreas ocupadas das regiões de Zaporijia e Kherson, membros das comissões eleitorais criadas pela Rússia têm visitado os residentes nas suas casas desde 25 de fevereiro, acompanhados por pelo menos um soldado armado.

"Há vídeos, bem como depoimentos que recebemos, tanto diretos como anónimos, que confirmam isso. Se alguém se recusa a votar na sua presença, é imediatamente questionado: 'Porquê?'", descreveu Mijalevska à EFE.

Yevgeny Balitsky, líder imposto pela Rússia na região ocupada de Zaporijia, anunciou publicamente que as autoridades russas têm um plano para filtrar e deportar "cidadãos não confiáveis", observou.

Em numerosos casos, a votação ocorre em "mesas de votação" improvisadas nas ruas, onde são impossíveis a votação secreta, a monitorização eficaz e o armazenamento seguro das cédulas, disse ainda.

A Rússia realiza entre hoje e domingo eleições presidenciais, nas quais é esperada a recondução de Vladimir Putin para um quinto mandato presidencial até 2030, face à ausência de oposição independente, controlo de informação e o espetro da manipulação.

Segundo a Comissão Eleitoral Central, 112,3 milhões de eleitores são chamados a votar na Rússia e também nas regiões ocupadas na Ucrânia e na península ucraniana da Crimeia anexada, a que se somam 1,9 milhões no estrangeiro.

As autoridades ucranianas e os parceiros ocidentais de Kiev denunciam a realização do ato eleitoral nas regiões ucranianas de Kherson, Zaporijia, Lugansk e Donetsk, parcialmente ocupadas no decurso da invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, bem como na Crimeia, anexada por Moscovo em 2014, avisando que é ilegal e não será reconhecido.

As eleições são vistas como uma mera formalidade com um vencedor antecipado, tendo sido autorizadas apenas candidaturas classificadas como amigáveis em relação ao Kremlin.

Em 2018, Putin venceu na primeira volta com 77,7%, deixando a larga distância os outros candidatos, num ato eleitoral que teve uma participação registada de 67,54%, embora observadores e eleitores individuais tenham relatado violações generalizadas, incluindo enchimento de urnas e votações forçadas.

Leia Também: Guterres condena atos eleitorais russos em áreas ucranianas ocupadas

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