Num debate no Parlamento Europeu sobre as recentes eleições presidenciais russas, o chefe da diplomacia europeia considerou "desprezível e ilegal" que os russos tenham tentado pagar a políticos europeus para divulgarem a sua propaganda.
"O regime russo subestimou a capacidade de resistência e a unidade dos europeus. Mostrámos que a nossa unidade é inquebrável, apesar das tentativas russas de interferir nas nossas democracias, como estou certo de que tentarão fazer novamente nas próximas eleições europeias", afirmou Borrell.
Borrell sublinhou que as tentativas de manipulação de informação "ou mesmo a tentativa de pagar ou talvez pagar a alguns políticos da União Europeia" para difundir a propaganda russa "não é apenas ilegal, é desprezível" e aplaudiu o facto de as instituições estarem já a tomar medidas para investigar e condenar estes atos.
Os eurodeputados estão a analisar as alegações de que uma rede pró-russa terá pagado a eurodeputados para divulgarem propaganda pró-Kremlin e influenciarem as eleições para o Parlamento Europeu, informações reveladas pelos meios de comunicação social na sequência de uma investigação em que cooperaram os serviços secretos checos e belgas.
A propósito da ofensiva russa ainda em curso no território ucraniano, Borrell, que avaliou o apoio da UE à Ucrânia em várias frentes em quase 100 mil milhões de euros, avisou os que sugerem que está a custar demasiado caro que "deixar a Ucrânia cair perante a agressão russa será muito mais caro", tanto para a Europa de hoje como para as gerações vindouras.
O alto representante da diplomacia europeia garantiu, por outro lado, que a UE não vai alterar a sua posição em relação à Rússia porque nada mudou no país desde as eleições presidenciais realizadas em março passado, nas quais Vladimir Putin foi reeleito num escrutínio sem verdadeira oposição.
"As eleições não trouxeram qualquer mudança para a Rússia e é por isso que não há qualquer alteração na nossa política em relação à Rússia", sustentou, criticando as condições em que decorreu a votação.
O processo eleitoral russo foi marcado pela morte do líder da oposição Alexei Navalny, num momento de perseguição de opositores, ativistas e jornalistas, e pela falta de acesso aos meios de comunicação social independentes.
"Por isso, chamar-lhes eleições é irónico", disse Borrell, que lamentou que Moscovo não tenha permitido a presença de observadores internacionais, em violação dos seus próprios compromissos internacionais.
Borrell afirmou ainda que as eleições que decorreram na Rússia são as de uma "autocracia", em que Putin moldou o processo para ganhar "sem uma verdadeira competição", e criticou a "ilegitimidade" da votação nos territórios ocupados da Ucrânia.
Nas eleições presidenciais russas, que decorreram entre 15 e 17 de março, Putin obteve na votação em território russo mais de 76,2 milhões de votos (87,28%). Fora da Rússia, o apoio a Putin caiu cerca de 15 pontos percentuais, situando-se nos 72,54%.
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