Desde o regresso ao poder, em agosto de 2021, as autoridades talibãs não foram oficialmente reconhecidas por nenhum país e aplicam uma interpretação bastante rigorosa do Islão, multiplicando as medidas liberticidas contra as mulheres, uma política descrita pela ONU como "'apartheid' de género".
As "restrições impostas às mulheres e às raparigas", nomeadamente em matéria de educação, "privam o país de capital humano vital", "contribuem para uma fuga de cérebros que compromete o futuro do Afeganistão", declarou Rosa Otunbayeva, chefe da missão da ONU no país (MANUA), numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Mais a mais, acrescentou a representante, "ao serem profundamente impopulares, [as medidas restritivas impostas pelo regime de Cabul] minam as pretensões de legitimidade das autoridades talibãs de facto" e "continuam a bloquear soluções diplomáticas que poderiam levar à reintegração do Afeganistão na comunidade internacional".
Em 2023, a comunidade internacional lançou um processo para discutir o seu reforço de empenhamento com este país da Ásia Central, através de reuniões de enviados para o Afeganistão em Doha, sob a égide da ONU e na presença de representantes da sociedade civil afegã, incluindo mulheres.
As autoridades talibãs garantiram a participação na terceira ronda de negociações no Qatar, prevista para 30 de junho e 01 de julho.
Os talibãs foram excluídos da primeira reunião, em maio de 2023, e recusaram-se a participar na segunda, em fevereiro deste ano, a menos que os seus membros fossem os únicos representantes do país.
O porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou esta semana que ainda estão a decorrer discussões sobre as modalidades desta terceira reunião.
No entanto, para que este processo seja verdadeiramente iniciado, "é essencial que as autoridades [afegãs] de facto participem em Doha", afirmou Rosa Otunbayeva, advertindo que "as elevadas expectativas não podem ser realisticamente satisfeitas numa única reunião".
"Nunca é demais sublinhar que este tipo de compromisso não é uma legitimação ou uma normalização. Só um compromisso através de uma posição internacional comum, coordenada e baseada em princípios pode constituir um forte incentivo para que as autoridades de facto aprovem políticas que permitam a reintegração [do Afeganistão] na comunidade internacional", insistiu a representante.
Leia Também: Mulheres afegãs vítimas de crimes contra a humanidade pelos talibãs