"Este ataque não é isolado e é uma consequência direta da política de colonização de Israel na Cisjordânia", afirmou a porta-voz do Gabinete dos Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani, citada pela agência espanhola EFE.
Cerca de 100 colonos encapuzados invadiram a aldeia de Jit na quinta-feira à noite, incendiaram casas e automóveis, e mataram um palestiniano de 23 anos.
"A impunidade é o grande problema e é isso que está a causar a violência", considerou a porta-voz do Gabinete dos Direitos Humanos da ONU.
Mais de 700.000 colonos vivem na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, onde colonos extremistas têm um poder alargado no Governo de coligação, que tem autorizado planos de expansão dos colonatos e a confiscação generalizada de terras.
Um dos líderes da extrema-direita, Itamar Ben Gvir, ele próprio um colono, é o atual ministro da Segurança Nacional.
O Tribunal Internacional de Justiça decidiu, em 19 de julho, que todos os colonatos são ilegais e exigiu que Israel retirasse todos os colonos do território, o que não aconteceu.
Desde o início da guerra em Gaza, em 07 de outubro de 2023, a ONU registou cerca de 1.250 ataques de colonos contra palestinianos, que causaram mais de uma dezena de mortos.
O ataque em Jit foi considerado desprezível pelo chefe da diplomacia britânica, David Lammy, que se reuniu hoje em Jerusalém com os homólogos israelita, Israel Katz, e francês, Stéphane Séjourné.
"As imagens de ontem [quinta-feira] à noite de edifícios incendiados, 'cocktails' Molotov atirados a carros (...), pessoas perseguidas por abandonarem as suas casas são abjetas", afirmou Lammy ao lado de Katz e de Séjourné, segundo a agência francesa AFP.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão condenou igualmente o ataque, que denunciou como "violência inaceitável".
"Israel tem a obrigação de proteger os palestinianos na Cisjordânia, de pôr termo a estes ataques e de processar os seus autores", declarou o ministério liderado por Annalena Baerbock.
Os Estados Unidos, o maior aliado de Israel, consideraram que os ataques violentos contra civis palestinianos "são inaceitáveis e têm de acabar".
"As autoridades israelitas devem tomar medidas para proteger todas as comunidades, incluindo intervir para acabar com a violência e responsabilizar os responsáveis por esses atos", disse uma porta-voz da presidência em Washington.
Em Bruxelas, o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, anunciou que vai propor sanções contra elementos do Governo de Israel por deixarem israelitas "aterrorizar palestinianos" na Cisjordânia ocupada.
"Dia após dia, com praticamente impunidade total, os colonos israelitas alimentam a violência na Cisjordânia ocupada, contribuindo para prejudicar qualquer possibilidade de paz", justificou.
O ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, afirmou em comunicado que os agressores atacaram pessoas inocentes e "não representam os valores das comunidades que vivem na Samaria", referindo-se aos colonatos da Cisjordânia pelo nome bíblico.
A Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) qualificou o ataque de "terrorismo de Estado organizado" e disse que os colonos só poderiam atuar como em Jit por se sentirem "protegidos e apoiados politicamente, legalmente e em termos de segurança".
O grupo extremista Hamas, com o qual Israel está a lutar na Faixa de Gaza, enquadrou o que aconteceu como parte dos crimes da ocupação na Cisjordânia.
O Hamas apelou aos palestinianos do enclave para que se insurgissem contra os colonos e "enfrentassem os ataques com todos os meios possíveis".
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