Em entrevista à Lusa, o responsável pelo Instituto Irwin Cotler e professor do departamento de estudos árabes e islâmicos da Universidade de Telavive apontou a polarização política, acentuada pelas redes sociais, e a identificação dos judeus com o estado de Israel como algumas das causas do aumento do antissemitismo.
"Nos últimos três anos houve um aumento dramático de incidentes antissemitas", incluindo ataques físicos ou ameaças 'online', explicou Shavit, que está em Lisboa a convite da Comunidade Israelita local, onde irá fazer uma palestra na quarta-feira subordinada ao tema "o aumento global do antissemitismo na sequência dos ataques terroristas de 7 de outubro - o que podem os países fazer para combater esta ameaça".
Só nos Estados Unidos, "no ano passado, em média, a cada dia houve três ameaças de bomba a sinagogas", afirmou Uriya Shavit.
"Quanto mais intenso é o conflito no médio Oriente maiores são as manifestações de antissemitismo", explicou.
Para este fenómeno contribui a polarização política, com "o aumento da extrema-direita e da extrema-esquerda à custa do centro", disse, lembrando que os dois extremos "têm historicamente inclinações antissemitas".
Além disso, as "redes sociais encorajam o antissemitismo", porque não há qualquer filtro ou editor.
"Não é que há 20 ou 30 anos não existissem antissemitas. A questão é que não havia quem publicasse as suas ideias e hoje é muito fácil produzir e divulgar conteúdo desse tipo", explicou.
No século XX, o movimento sionista conseguiu ganhar a simpatia de muitos judeus fora de Israel e, hoje em dia, essa identificação acaba por trazer violência a essas comunidades.
Atualmente, "tudo o que acontece no Médio Oriente projeta-se nas comunidades judaicas" e as "forças anti-Israel responsabilizam os judeus", justificando assim os ataques a sinagogas.
As redes sociais também acentuam o discurso antissemita, com as "câmaras de eco" criadas pelos algoritmos a atraírem seguidores: "Quem tem ideias antissemíticas começa a achar que isso é normal, porque só vê essas ideias nas suas redes".
A pandemia e as sucessivas crises dos últimos anos também trazem para o discurso maioritário histórias que diabolizam os judeus, principalmente em contextos históricos de tensão.
"Em tempos de crise, procuram-se explicações simples" e "o antissemitismo é a teoria da conspiração mais antiga do mundo", ao responsabilizar os judeus pelos problemas individuais de outros.
Em paralelo, as críticas às políticas de Israel confundem-se com questões sobre a própria existência do estado israelita. Os críticos "estão a questionar a legitimidade do Estado, a sua verdadeira existência", explicou.
Israel, argumentou, "é o único país que se diz que não tem o direito a existir. Porque é que isto é permitido?".
Mesmo no dia 7 de outubro, data da agressão do movimento terrorista Hamas, "um ataque não provocado à soberania de Israel", houve "pessoas a questionar a existência" do Estado israelita.
Por isso, este tipo de críticas "não está relacionado com o que Israel faz, mas com a sua própria existência", o que indicia um "sentimento antissemita escondido".
"Se alguém não quer que o Estado de Israel exista, mas está confortável com a existência do estado da Austrália, então deve justificar qual a razão" sem ser o antissemitismo, afirmou o académico.
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