Durante quatro semanas, até 29 de outubro, Eugène Rwamucyo será julgado por genocídio, cumplicidade em genocídio, crimes contra a humanidade e cumplicidade em crimes contra a humanidade, bem como por conspiração para preparar estes crimes.
O arguido, que se encontra em liberdade sob controlo judicial, compareceu no tribunal acompanhado pelos seus advogados e não quis falar à sua chegada à sala de audiências.
Eugène Rwamucyo, 65 anos, que exerceu a profissão em França e na Bélgica depois de ter deixado o Ruanda, é o oitavo ruandês a ser julgado em França pela sua alegada participação no genocídio dos tutsis, instigado pelo governo hutu. Pode ser condenado a prisão perpétua.
É acusado de ter apoiado e transmitido as ordens das autoridades nacionais incitando a população a atacar a minoria tutsi, na imprensa de propaganda hutu e durante um discurso na Universidade de Butare, no sul do país, em 14 de maio de 1994, na presença de Jean Kambada, primeiro-ministro do Governo provisório.
Segundo testemunhas, Eugène Rwamucyo, na altura médico e professor na universidade, participou igualmente na execução dos feridos e no enterro dos corpos numa vala comum "num último esforço para suprimir as provas do genocídio".
Eugène Rwamucyo e os seus advogados, Philippe Meilhac e Françoise Mathé, negam firmemente estas acusações.
"Ele mandou enterrar os corpos, mas era médico e havia centenas de cadáveres ao ar livre. Ele sabia como proceder para evitar acrescentar uma crise sanitária à catástrofe que se estava a desenrolar", explicou Philippe Meilhac.
Eugène Rwamucyo, que era alvo de um mandado de captura internacional emitido pelo Ruanda, foi detido pelas autoridades francesas em 26 de maio de 2010, alguns meses depois de ter sido denunciado pelos seus colegas do hospital de Maubeuge (Nord), onde trabalhava.
Rwamucyo foi capturado sob mandado em Sannois, perto de Paris, após assistir ao funeral de Jean-Bosco Barayagwiza, um outro ruandês, cofundador da Radio-Télévision Libre des Mille Collines, que propagou ideologia extremista hutu e discurso de ódio contra tutsis.
O médico acabou por ser libertado após o tribunal da Relação de Versalhes se ter oposto à sua extradição.
Em 2013, Rwamucyo foi acusado pela primeira vez por "participação num acordo para cometer o crime de genocídio", tendo enfrentado em 2018 acusações de genocídio e crimes contra a humanidade.
Rwamucyo foi então colocado sob supervisão judicial e passou a estar proibido de abandonar o espaço Schengen.
Durante o julgamento, especialistas e historiadores irão recordar alternadamente ao tribunal o contexto dos massacres de 1994, que começaram após o bombardeamento do avião do presidente hutu Juvénal Habyarimana, numa altura em que grassava uma feroz propaganda anti-tutsi.
Entre abril e julho de 1994, mais de 800.000 pessoas foram mortas, segundo a ONU, principalmente entre a minoria tutsi.
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