Um médico disfarçou-se de enfermeiro e injetou o parceiro da mãe com um veneno que lhe transmitiu uma doença rara e potencialmente fatal, alegadamente por temer ficar ‘de fora’ da herança da progenitora. A vítima, que julgava estar a ser inoculada para a Covid-19, foi injetada com uma substância ‘devoradora de carne’, tendo desenvolvido fasceíte necrotizante.
Thomas Kwan, de 53 anos, negou ter tentado matar Patrick O'Hara, na altura com 71 anos, na residência da sua mãe, Jenny Leung, a 22 de janeiro. Contudo, declarou-se culpado de lhe ter administrado uma substância nociva, noticiou a Sky News.
"Por vezes, talvez ocasionalmente, a verdade é realmente mais estranha do que a ficção. Thomas Kwan, o arguido no processo, era, em janeiro deste ano, um respeitado e experiente médico de clínica geral, com um consultório em Sunderland. A partir de novembro de 2023, o mais tardar, e provavelmente muito antes disso, concebeu um plano intrincado para matar o companheiro de longa data da sua mãe, um homem chamado Patrick O'Hara", introduziu o procurador Peter Makepeace, perante o tribunal de Newcastle.
O advogado argumentou que Kwan desenhou "um plano audacioso" para "assassinar um homem mesmo à frente dos olhos da sua própria mãe, a companheira de vida desse homem", ainda que o arguido tenha alegado que pretendia causar "não mais do que uma ligeira dor ou desconforto".
É que, de acordo com a acusação, Leung tinha incluído o parceiro no testamento, para que pudesse ficar na sua habitação, caso morresse primeiro. A relação com o filho deteriorou-se, tendo levado Kwan a invadir a casa da mãe, em novembro de 2022.
Um ano depois, o médico falsificou uma carta do Serviço Nacional de Saúde (NHS) "com uma autenticidade arrepiante", na qual alegava ser um enfermeiro comunitário chamado Raj Patel que se propunha a inocular O’Hara numa visita domiciliária.
No dia fatídico, o homem alojou-se num hotel com um nome falso e dirigiu-se até à residência da mãe com uma bata comprida, touca, luvas cirúrgicas, máscara e óculos escuros. O falso enfermeiro permaneceu 45 minutos no local, e chegou mesmo a medir a tensão arterial da mãe.
Após a injeção, O’Hara queixou-se de uma "dor terrível", mas Kwan tranquilizou-o, antes de deixar a habitação.
Depois de Leung ter comentado que o enfermeiro tinha a mesma altura do seu filho, o homem contactou o seu médico assistente e soube que a organização do NHS que o tinha abordado não existia.
Foi, por isso, às urgências, tendo os profissionais de saúde equacionado que tinha levado uma vacina contra a Covid-19 de forma "desajeitada". Contudo, regressou no dia seguinte, com o braço "gravemente descolorido" e com bolhas.
Os médicos aperceberam-se de que O’Hara tinha contraído fasceíte necrotizante, "uma doença rara e potencialmente fatal, que se alimenta de carne", pelo que tiveram de cortar o tecido doente. O homem passou semanas nos cuidados intensivos.
De acordo com o procurador, Kwan tinha um "interesse profundamente perturbador, de longa data, que raiava a obsessão" por venenos e toxinas químicas e pela sua utilização para matar seres humanos, noticiou o The Guardian.
Quando a polícia revistou a sua propriedade, encontrou vários produtos químicos na garagem, incluindo mercúrio líquido, tálio, ácido sulfúrico e arsénico. Havia também óleo de rícino em grão e filtros de café, bem como uma receita para o fabrico de ricina a partir de sementes de rícino.
Inicialmente, pensou-se que o veneno seria a ricina, mas um perito químico do Ministério da Defesa considerou que o candidato mais provável seria o iodometano, predominantemente utilizado como pesticida fumigante. Até à data, não há registo de nenhum caso de um ser humano que tenha sido injetado com iodometano.
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