Mais de mil nomes aparecem em 19 páginas datilografadas, de mais de mil judeus que escaparam à máquina de matar nazi alemã durante a Segunda Guerra Mundial, porque o empresário Oskar Schindler os declarou trabalhadores de guerra essenciais na sua fábrica, num ato de salvação.
Essa lista e a história do empresário ficaram mundialmente conhecidas graças ao filme do realizador Steven Spielberg, "A lista de Schindler", de 1993, mas nessa altura, ainda a história do dono da fábrica não tinha sido totalmente contada.
Seis anos depois, ou seja, em 1999, uma mala com 7.000 documentos do espólio de Schindler, incluindo uma versão da famosa lista, foi encontrada num sótão na cidade de Hildesheim, no Centro-Norte da Alemanha.
Agora, por ocasião do 50.º aniversário da morte de Oskar Schindler, o arquivo oficial alemão vai disponibilizar na sua página de internet parte deste achado e a saga daquele que ficou para a História como um herói algo contraditório, anunciou a direção daquele organismo.
Schindler, então um nacional-socialista de 31 anos, foi atraído para a Polónia ocupada pelos alemães pouco depois do início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, na esperança de obter lucros.
Alugou uma fábrica perto de Cracóvia e produziu panelas, pratos e taças esmaltadas para a Wehrmacht (as forças armadas da Alemanha nazi) e empregou como mão de obra barata judeus polacos da região.
O empenho de Schindler e da sua mulher Emilie para com os trabalhadores judeus começou com a crescente pressão dos ocupantes nazis para os exterminar.
Inicialmente, Schindler construiu alojamentos na sua Fábrica Alemã de Esmaltes, para não os enviar para um campo de trabalho, mas com o tempo começou a empregar cada vez mais judeus, alegando que eram necessários para a produção essencial da guerra.
Nalguns casos, Schindler chegou a inventar profissões para eles, a fim de os manter empregados.
"Teriam morrido todos se Schindler não tivesse tomado conta deles desta forma", disse Tobias Herrmann, diretor do arquivo, à agencia de noticias nacional.
Quando Schindler mudou a sua fábrica para os Sudetos (atual República Checa), no final da guerra, devido ao avanço do exército soviético, levou consigo os "seus" judeus.
Das listas constavam os nomes de 800 homens e 300 mulheres, mas em 1945, Oskar e Emilie Schindler acolheram também os chamados judeus de Golleschau, um grupo de trabalhadores forçados de um subcampo do campo de extermínio de Auschwitz, que tinham sido transportados sem destino em vagões de gado.
Após a capitulação alemã, os Schindler fugiram para o sul da Alemanha e perderam os seus bens. Oskar Schindler nunca mais foi muito bem-sucedido financeiramente, tendo recebido apoio financeiro de organizações judaicas e de alguns dos seus antigos empregados que tinha resgatado.
O publicitário Michel Friedman, filho de um dos judeus resgatados, que conheceu Oskar Schindler em criança, disse que Schindler "não era particularmente bem visto do ponto de vista moral", era um "bêbado, tinha muitas, muitas mulheres", mas que, ao contrário de todos os "moralistas", ajudava as pessoas arriscando a sua vida.
Schindler tinha um quarto na casa de um amigo, em Hildesheim. O seu filho encontrou os documentos 25 anos após a morte de Schindler, em 09 de outubro de 1974.
O Arquivo Nacional da Alemanha conservou os documentos em microfilme e transferiu-os para o memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém. O arquivo recebeu uma cópia original da "Lista de Schindler", que se encontra atualmente na cidade alemã de Coblença.
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