A defesa de Laurent Vinatier descreveu a acusação como "extremamente severa", uma vez que as autoridades russas acusam o cidadão francês de não ter cumprido a obrigatoriedade de registo sob o rótulo de "agente estrangeiro", apesar de ter recolhido "informações no domínio das atividades militares" que poderiam ser "utilizadas contra a segurança" da Rússia.
A infração de incumprimento do registo é passível de uma pena de prisão de até cinco anos.
"Consideramos que a sentença pedida pelo procurador é extremamente severa", lamentou um dos advogados russos de Vinatier, Oleg Bessonov, que recordou que o seu cliente "admitiu plenamente a sua culpa" ao alegar "ignorância".
"Este pedido não é razoável e é ilegal", insistiu o outro advogado russo do cidadão francês, Alexei Sinitsin.
Os dois advogados solicitaram que o seu cliente fosse punido apenas com uma multa.
Laurent Vinatier, com cerca de 40 anos, admitiu não se ter registado como "agente estrangeiro", rótulo utilizado na Rússia contra vozes críticas e que impõe pesadas obrigações administrativas, sob pena de sanções penais.
O cidadão francês alegou desconhecer que esta obrigação tinha sido introduzida no código penal.
No início de julho, os serviços de segurança russos (FSB) afirmaram, por seu lado, que o acusado tinha estabelecido "numerosos contactos" com politólogos, economistas e especialistas militares russos, bem como com funcionários públicos.
"Durante os intercâmbios com estas pessoas, recolheu informações militares e técnicas que podem ser utilizadas por serviços de informações estrangeiros contra a segurança da Rússia", denunciou o FSB.
Esta denúncia levanta o receio de uma acusação mais grave, por exemplo, por "espionagem", um crime passível de uma pena de prisão de até 20 anos.
No início de setembro, a prisão preventiva do francês foi prolongada por seis meses no primeiro dia do seu julgamento, até 21 de fevereiro de 2025.
Este investigador especializado no espaço pós-soviético foi contratado em solo russo pelo Centro para o Diálogo Humanitário, uma organização não-governamental (ONG) suíça que intervém como mediador em conflitos fora dos circuitos diplomáticos oficiais.
O cidadão francês investigava há vários anos o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, ainda antes da ofensiva russa de fevereiro de 2022, no âmbito de esforços diplomáticos discretos e paralelos à diplomacia tradicional.
Este caso surge também numa altura em que as relações entre Moscovo e Paris estão muito tensas: a Rússia é acusada de uma série de atos de desestabilização e desinformação em território francês, enquanto a França é criticada pelo seu apoio à Ucrânia.
Nos últimos anos, vários ocidentais, sobretudo norte-americanos, foram detidos na Rússia e foram alvo de graves acusações, com Washington a denunciar a tomada de reféns para obter a libertação de russos detidos no estrangeiro.
Em 01 de agosto, o Ocidente e a Rússia realizaram a maior troca de prisioneiros desde o fim da Guerra Fria, que incluiu a libertação por Moscovo do jornalista norte-americano Evan Gershkovich e do ex-fuzileiro Paul Whelan.
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