Na primeira volta das eleições, a presidente pró-Ocidente, Maia Sandu, vai tentar conquistar um segundo mandato, mas se nenhum dos 11 candidatos obtiver mais de 50% dos votos, a eleição irá a uma segunda volta a 3 de novembro.
As sondagens mostram que a atual chefe de Estado deverá ganhar na primeira volta, ficando o restante dividido entre outros 10 candidatos, mas uma eventual segunda volta da votação presidencial poderá trazer surpresas.
Se for a segunda volta, a presidente enfrentará apenas um opositor, muito provavelmente o antigo procurador-geral de Justiça Alexander Stoianoglo, que será fortemente apoiado por partidos pró-Rússia.
Também neste domingo será realizado um referendo nacional sobre a adesão à União Europeia. Se o "sim" vencer, a entrada no bloco europeu ficará consagrada como objetivo estratégico na Constituição do país. Se o "não" obtiver mais votos, dificilmente o país candidato à UE voltará a ter a confiança dos 27.
Quais são os problemas?
A Moldova é uma ex-república da União Soviética e hoje uma pequena república da Europa de Leste situada entre a Roménia e a Ucrânia. Com 2,5 milhões de habitantes, engloba uma maioria que fala a língua romena e uma grande minoria que fala russo, tendo alternado, desde a dissolução da URSS, entre a linha pró-Ocidente e a pró-Rússia.
Os atuais líderes querem uma integração maior no Ocidente, através da adesão à UE até 2030, e mostraram uma forte oposição à invasão da Ucrânia pela Rússia.
No entanto, a guerra na Ucrânia provocou uma redução drástica das importações de gás natural russo e, consequentemente, um aumento da inflação, o que esmoreceu os ânimos pró-Ocidente.
Além disso, Moscovo tem cerca de 1.500 soldados estacionados na Transnístria, uma região governada por separatistas pró-Rússia que se libertaram do controlo do Governo da Moldova numa breve guerra na década de 1990.
O que preveem as sondagens?
Uma sondagem do Centro de Investigações Sociológicas CBS-AXA mostra Sandu muito à frente de qualquer um dos seus 10 adversários, com 36,1% de apoio.
Os seus dois principais opositores são, de acordo com a sondagem, Alexandr Stoianoglo, um antigo procurador da Justiça apoiado pelo Partido Socialista, tradicionalmente pró-Rússia, com 10,1%, e Renato Usatii, antigo presidente da Câmara da cidade de Balti, no norte, com 7,5%.
Embora as eleições possam ir a segunda volta, é provável que Sandu ganhe e continue o seu rumo pró-Ocidente.
Um resultado mais fraco poderá colocar o Partido de Ação e Solidariedade, de centro-direita, numa situação instável e fazê-lo perder a maioria nas eleições legislativas do próximo ano.
A sondagem CBS-AXA prevê ainda que 63% dos moldavos apoiem a adesão à UE. Um voto "não" seria um golpe para a reputação política de Sandu, mas não é vinculativo.
Que pressão exerce a Rússia?
O Governo moldavo tem denunciado, nos últimos anos, uma persistente ingerência russa, enquanto Moscovo acusa Sandu e a sua equipa de fomentarem a "russofobia".
No dia 04 de outubro, a polícia disse que grupos criminosos com apoio russo tinham a intenção de perturbar a votação, tendo planeado ações que incluíam uma tentativa de derrubar instituições estatais.
No mês passado, o chefe da polícia nacional acusou Moscovo de canalizar 15 milhões de dólares (13,7 milhões de euros) para subornos de mais de 130 mil moldavos para que votassem contra no referendo e a favor de candidatos presidenciais amigos da Rússia.
O dinheiro terá sido, segundo a polícia, enviado através da rede do empresário pró-Rússia exilado Ilan Shor, que se ofereceu para pagar a quem vote contra a integração europeia, mas garantiu que os fundos provêm da sua empresa e que não constituem subornos.
Por outro lado, a Rússia já ameaçou várias vezes a Moldova, dizendo que a situação do país é comparável à que tinha a Ucrânia antes da invasão e sugerindo que Chisinau pode ser agredida se mantiver a sua trajetória pró-Ocidente.
Como é que o Ocidente influencia o país?
Bruxelas prometeu 1,8 mil milhões de euros de apoio económico à Moldova antes do referendo, já que a redução dos fluxos comerciais e os elevados custos da energia causados pela guerra da Ucrânia minaram a popularidade do Governo pró-UE.
O "Plano de Crescimento" da Comissão Europeia, anunciado na semana passada como o maior do país desde a sua independência em 1991, pretende desenvolver as infraestruturas rodoviárias e ferroviárias e melhorar a rede elétrica.
"A Europa está firmemente ao lado da Moldova, tanto hoje como sempre que der um passo no caminho da nossa união. Podemos já começar a aproximar a economia da Moldova da nossa", disse a presidente da Comissão Europeia durante uma visita a Chisinau.
Também o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken visitou o país em maio, anunciando 123 milhões de euros em ajuda, sobretudo para diminuir a dependência do país em relação à energia russa.
No início deste mês, a Alemanha, a França e a Polónia prometeram apoio ao país de leste e os Estados Unidos, o Reino Unido e a UE impuseram sanções à empresa e ao próprio Shor.
O que acontece se o "não" ganhar o referendo?
A questão "Concorda com a adesão da Moldova à União Europeia?" é simples, ao contrário das consequências de um voto negativo.
Se o referendo falhar, a Moldova corre o risco de perder o estatuto de país candidato à UE, concedido em março de 2022, e de ficar sem a ajuda europeia, pelo que as reformas internas, nomeadamente no domínio da justiça, poderão ficar comprometidas.
Um "não" no referendo pode também aumentar a influência externa da Rússia, tornando quase impossível a Chisinau voltar a convencer os membros da UE de que a Moldova é um Estado verdadeiramente europeu.
Politicamente, as forças pró-europeias perderiam legitimidade e apoio popular, abrindo a porta a partidos ou líderes políticos que defendem uma reorientação para leste, aumentando significativamente o risco de leis de inspiração russa, como a "lei dos agentes estrangeiros" promovida noutros Estados que fizeram parte da União Soviética.
A implementação de tais medidas poderá restringir drasticamente o trabalho da sociedade civil, dos meios de comunicação independentes e das organizações internacionais, corroendo a democracia e as liberdades fundamentais.
Na vertente económica, a rejeição da adesão à UE teria consequências significativas, uma vez que Bruxelas é o principal parceiro económico e comercial, absorvendo cerca de 70% das exportações moldavas.
A segurança nacional é outra questão fundamental. Enquanto Estado neutro, a Moldova não é membro da NATO, o que significa que a sua segurança depende da cooperação com Bruxelas, sobretudo depois de assinar, em maio, uma Parceria de Segurança e Defesa com a UE.
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