Desinformação, imagens falsas e insultos marcam campanha nos EUA

Num evento com eleitores organizado pela cadeia televisiva Univision na semana passada, o candidato republicano Donald Trump repetiu a acusação de que migrantes haitianos estavam a comer animais de estimação no Ohio, alegando erroneamente que tal havia sido noticiado. 

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© Justin Sullivan/Getty Images

Lusa
22/10/2024 08:21 ‧ 22/10/2024 por Lusa

Mundo

EUA/Eleições

A história, que teve origem em rumores no Facebook, foi refutada por autoridades da cidade de Springfield, mas continua a ser repetida por Trump e pelo seu candidato a vice-presidente, J.D. Vance, num dos exemplos mais relevantes da desinformação que tem marcado a campanha presidencial nos Estados Unidos.

 

De acordo com a plataforma de verificação noticiosa NewsGuard, 39 narrativas falsas ligadas à eleição foram publicadas em vários sites desde 01 de setembro, com sete a aparecerem na última semana.

Entre os exemplos de falsidades propagadas por diversos sites está a notícia falsa de que um vídeo mostra um homem que acusou o candidato democrata a vice-presidente Tim Walz de o molestar em 1997. 

Outra narrativa falsa mostra Trump com um cheque gigante de 1.300 dólares para vítimas dos furacões Milton e Helene e uma outra alega que Kamala Harris estava filiada no Partido Comunista Soviético. 

"Desde o final de agosto de 2024, depois de o ex-presidente Donald Trump e da vice-presidente Kamala Harris terem aceitado as nomeações dos partidos, a NewsGuard identificou uma média de seis novas alegações falsas relacionadas com a eleição por semana, bem como 318 sites que promovem essas falsas narrativas", indicou a plataforma. 

Há 1.238 sites com inclinação partidária "mascarados" de meios de comunicação locais neutros, identificou a NewsGuard, sendo que muitos são "secretamente financiados por organizações políticas sem informarem os leitores". 

Uma tendência crescente neste ciclo eleitoral é a circulação nas redes sociais de 'deep fakes', imagens criadas por modelos de Inteligência Artificial generativa. Um exemplo, partilhado por Donald Trump na sua rede Truth Social, mostrava o apoio de Taylor Swift e dos seus fãs (Swifties) à candidatura republicana, quando na verdade a cantora apoia Kamala Harris. 

Mas o candidato acusou a oponente democrata de manipular imagens para mostrar comícios com grandes multidões, algo que os meios de comunicação presentes refutaram. 

Nos comícios que tem dado em estados críticos, como Pensilvânia e Wisconsin, Donald Trump continua também a defender argumentos que não correspondem à verdade, entre os quais que há imigrantes ilegais a votar, que o Irão espiou a sua campanha e passou a informação a Kamala Harris, que a votação antecipada é usada por autoridades para cometer fraude, que a Casa Branca está por detrás dos seus processos criminais e que a votação por correspondência é insegura e fraudulenta.

Outro tema que está a causar um aumento da desinformação é a destruição causada pelos furacões Milton e Helene. A congressista Marjorie Taylor Greene clamou online que o governo consegue controlar a meteorologia e circulou um mapa que questiona porque é que os furacões só atingiram regiões republicanas.

Têm circulado ainda mentiras sobre o apoio dado pela agência federal de emergências (FEMA), sendo que Donald Trump propagou várias delas na sua rede social e em comícios. Em resultado disso, trabalhadores da agência receberam ameaças de morte na Carolina do Norte e o Centro para Direitos Civis e Tecnologia emitiu esta segunda-feira um parecer instando as redes sociais a resolverem o problema. 

A campanha do ex-presidente tem sido marcada não apenas por um volume significativo de alegações desmentidas mas também pela hostilidade crescente para com jornalistas e o cancelamento de diversas entrevistas. 

Depois do debate presidencial entre Trump e Harris, o ex-presidente insultou o moderador da ABC News David Muir, que desmentiu em direto algumas afirmações do republicano. Decidiu também cancelar a aparição no programa da CBS "60 Minutes" e disse que a estação deveria ver a sua licença revogada por ter "editado" a entrevista com Kamala Harris, acusando-a de interferência eleitoral.

Jessica Rosenworcel, presidente da comissão que gere as licenças de comunicação nos Estados Unidos (FCC) recusou a possibilidade, clarificando que uma estação não arrisca a sua licença só porque um candidato não gosta da cobertura noticiosa. 

Trump optou ainda por cancelar entrevistas com a NBC e a CNBC, além de ter decidido não ir ao programa Shade Room, que recentemente falara com Kamala Harris. 

A duas semanas das eleições, os dois candidatos estão tecnicamente empatados nas sondagens. 

Leia Também: Propostas de Trump levariam à rutura financeira da SS em seis anos

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