O Exército israelita iniciou a 06 de outubro uma nova ofensiva no norte da Faixa de Gaza, em particular em torno de Jabalia, afirmando ter como alvo os combatentes do movimento islamita palestiniano Hamas que ali estavam a reorganizar-se.
"Lamentamos não poder continuar a prestar serviços humanitários aos cidadãos do norte da Faixa de Gaza devido às ameaças das forças de ocupação israelitas de matar e bombardear as nossas equipas se estas permanecerem no campo [de refugiados] de Jabalia", declarou o porta-voz do serviço de primeiros socorros Mahmud Bassal, citado pela agência de notícias francesa, AFP.
Socorristas "foram alvo de ataques", vários estão feridos e outros foram deixados para morrer "nas estradas", descreveu.
Bassal publicou também nas redes sociais a fotografia de um veículo totalmente carbonizado, explicando tratar-se do "único veículo da Defesa Civil na província do norte da Faixa de Gaza" e que tinha sido "tomado como alvo pelo Exército israelita em Beit Lahia", a norte de Jabalia e perto da fronteira com Israel.
O Exército israelita declarou hoje que prossegue as suas operações no setor de Jabalia e que "eliminou dezenas de terroristas".
O Hamas divulga regularmente comunicados afirmando estar a combater o Exército israelita na área circundante.
Há quase três semanas que o norte da Faixa de Gaza é palco de violentos combates e bombardeamentos. O Exército começou por cercar Jabalia e apelou à população para se retirar para sul, criando pontos de passagem para controlar os habitantes. A operação foi depois alargada à cidade de Beit Lahia e arredores.
Mas muitos habitantes de Gaza explicaram que não conseguem sair das zonas de combate, como Ragheb Hamuda, um pai de família de 30 anos que afirma que "cada centímetro quadrado da Faixa de Gaza é perigoso".
Hamuda conta que a escola onde estava refugiado com a mulher e os três filhos pequenos albergava "milhares de pessoas", mas foi demolida pelo Exército israelita. Ele chegou à cidade de Gaza hoje de manhã, após horas de errância, por vezes "debaixo de fogo".
A 20 de outubro, o porta-voz falante de árabe do Exército israelita, Avichay Adraee, escreveu na rede social X (antigo Twitter) que os habitantes continuam a abandonar a zona de Jabalia e que 5.000 pessoas já tinham partido.
Mantêm-se centenas de milhares de pessoas no norte da Faixa de Gaza: 400.000, segundo a Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), e 250.000, segundo o Cogat - o organismo militar israelita responsável pela supervisão dos assuntos civis nos Territórios Palestinianos Ocupados.
O porta-voz da Defesa Civil indicou hoje que pelo menos 770 pessoas foram mortas no norte do território desde 06 de outubro.
Mas o número de vítimas mortais é bastante mais elevado, porque "há mortos que continuam sob os escombros [dos edifícios atingidos pelos bombardeamentos] e nas ruas", afirmou.
Apesar de as autoridades israelitas terem anunciado que facilitariam a passagem de ajuda humanitária, as organizações não-governamentais (ONG) e os residentes afirmam não ver qualquer mudança imediata no terreno, onde a situação humanitária continua dramática.
Israel declarou a 07 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis.
Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 97 dos quais continuam em cativeiro, 34 deles entretanto declarados mortos pelo Exército israelita.
A guerra, que hoje entrou no 384.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 42.847 mortos (quase 2% da população), entre os quais 17.000 menores, e 100.544 feridos, além de mais de 10.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza viram-se obrigados a deslocar-se, muitos deles várias vezes, ao longo de mais de um ano de guerra, encontrando-se em acampamentos apinhados ao longo da costa, praticamente sem acesso a bens de primeira necessidade, como água potável e cuidados de saúde.
O sobrepovoado e pobre enclave palestiniano está mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
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