"Estou aqui a cumprir com o que o nosso 'Presidente' falou, que temos de estar aqui a buzinar, a nos expressar contra o que aconteceu aos nossos irmãos, que foram mortos. Estamos aqui para poder mostrar que estamos de luto, isto parte o coração", explicava Helton Magagule, que parou o caro na avenida Vladmir Lenine, à entrada do bairro de Maxaquene, para se juntar o buzinão que durante 15 minutos bloqueou o trânsito, como em várias outras artérias, em simultâneo.
Esta nova fase de protestos foi convocada por Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), e centenas de pessoas responderam saindo às ruas da capital, vestidas de preto, ou parando as viaturas no meio do trânsito durante 15 minutos, a partir das 12:00 locais (10:00 em Lisboa).
A ação, para os dias 20, 21 e 22 de novembro, em todo o país, explicou o candidato, é o luto pelas vítimas, manifestantes - segundo o candidato um total de 50 mortos nos últimos dias - que participaram em ações de protesto anteriores, disse, "baleadas pelas autoridades que as deviam proteger".
Enquanto os carros, camiões e viaturas de transporte público começavam a parar na rua, entre buzinadelas generalizadas, muitos saíram dos estabelecimentos comerciais e instituições públicas para se juntar no passeio, vestidas de preto, alguns com cartazes, entoando cânticos de apoio a Venâncio Mondlane.
"O país está mal, é nesse sentido que paramos os carros. Veja como está isto", afirmava Velemo Sitoe, que também aderiu a este protesto, junto à Praça da Organização da Mulher Moçambicana, prolongando-se pela avenida Joaquim Chissano.
Com o trânsito parado, alguns subiam ao tejadilho das viaturas para elevar o protesto, outros batiam tambores e panelas, com a polícia a assistir sem esboçar qualquer intervenção, até porque, ao fim de 15 minutos, a circulação começou progressivamente a retomar normalidade, embora com o som das buzinas e apitos a permanecer de fundo.
"Estou aqui pela luta, pela verdade, pelo desenvolvimento do nosso país. Estamos cansados de ser escravizados", garantia, ainda durante o protesto, Cristiano Messer, atirando: "A luta continua, não vamos ficar assim a sofrer".
Carros parados e buzinão que alastraram a outras artérias centrais de Maputo, como as avenidas de Moçambique, Karl Max, 24 de Julho, Eduardo Mondlane, ou ainda no Mercado Estrela ou bairro do Alto Maé, entre outras zonas.
Neste período de três dias, Venâncio Mondlane apelou igualmente à população para manter o protesto ruidoso noturno dos últimos dias, de bater panelas e outros instrumentos, mas "sem marchas", cingindo-se apenas à porta de casa ou ao quarteirão, face aos "infiltrados" e "vândalos" nestes protestos.
"A nossa manifestação vai ser estar de preto, bater panelas, levantar cartazes. Não vamos pegar em nenhum pau, em nenhuma catana, em nenhum objeto contundente", afirmou.
"É a homenagem que queremos prestar aos que morreram", disse, admitindo ainda: "Aparentemente estamos a baixar a nossa intensidade, mas estamos em luto".
Afirmou que as 50 vítimas da ação da polícia em manifestações desde 21 de outubro "morreram como heróis, como mártires de uma revolução".
Venâncio Mondlane contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela CNE e que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.
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