Al-Bashir, nomeado na terça-feira como primeiro-ministro responsável pela transição na Síria até 01 de março de 2025, afirmou que entre os objetivos das autoridades está "alcançar o regresso dos milhões de refugiados sírios espalhados pelo mundo".
"O seu capital humano e a sua experiência permitirão que o país prospere. Apelo a todos os sírios no estrangeiro: a Síria é agora um país livre que conquistou o seu orgulho e dignidade. Voltem. Devemos reconstruir, renascer e precisamos da ajuda de todos," declarou Al-Bashir.
O responsável político reconheceu que "o comportamento erróneo de alguns grupos islâmicos levou muitas pessoas, especialmente no Ocidente, a associar os muçulmanos ao terrorismo e o Islão ao extremismo".
"Houve erros e mal-entendidos que distorceram o verdadeiro significado do Islão, que é a religião da justiça. Precisamente por sermos muçulmanos é que vamos garantir os direitos de todos os povos e comunidades na Síria", argumentou Al-Bashir.
Da mesma forma, sublinhou que as novas autoridades enfrentam "um desafio monumental" devido à situação do país, sublinhando que vão "herdar uma administração inflacionada e assolada pela corrupção".
"O regime devorou-se a si próprio, enquanto as pessoas estavam a viver na pobreza", explicou, acrescentando que "nos cofres só existem libras sírias, que praticamente não valem nada".
"Um dólar norte-americano equivale a 35 mil libras sírias. Não temos reservas estrangeiras e, em relação a empréstimos e obrigações, estamos a recolher os dados. Financeiramente estamos num estado muito mau", lamentou.
"Temos a experiência de Idlib, onde fizemos bons progressos. Uma província não é igual a todo o país, mas sentimos que a situação pode melhorar na Síria. Vai levar tempo, mas lá chegaremos", sublinhou, referindo que a principal prioridade é "restaurar a segurança e a estabilidade em todas as cidades sírias", uma vez que "as pessoas estão exaustas da injustiça e da tirania".
Neste sentido, defendeu que "os sírios não podem continuar a viver com a precariedade de serviços essenciais como o fornecimento de eletricidade, alimentação e água".
"Estamos num Governo de transição, mas temos de começar a resolver estes problemas", disse, ao mesmo tempo que qualificou de inaceitável a situação nas cidades tomadas ao regime durante a ofensiva rebelde.
Al-Bashir confirmou ainda contactos com "países como o Iraque, a China e muitos outros" para "explicar que o objetivo da revolução era libertar os sírios de Bashar al-Assad".
"Todos compreenderam. Não temos problemas com nenhum Estado, partido ou seita que se tenha distanciado do regime sangrento de Al-Assad", disse, sem responder a uma pergunta direta sobre possíveis relações com Israel, Irão ou Rússia.
Os rebeldes sírios declararam, em 08 de dezembro, Damasco 'livre' do Presidente Bashar al-Assad, após 12 dias de uma ofensiva armada de uma coligação liderada pelo grupo islamita Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham ou HTS, em árabe), juntamente com outras fações apoiadas pela Turquia, para derrubar o regime sírio.
Perante a ofensiva rebelde, Bashar al-Assad, que esteve no poder 24 anos, abandonou o país e exilou-se na Rússia.
No poder há mais de meio século na Síria, o partido Baath foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão, iniciada em 1970 com a chegada ao poder, através de um golpe de Estado, de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que liderou o país até morrer, em 2000.
Leia Também: Rússia em contacto com novas autoridades sírias sobre futuro de bases