"Ainda é preliminar, mas temos agora uma lista de cerca de 150 estabelecimentos vandalizados no país, mas o mais triste é o que está a acontecer na Matola [arredores de Maputo]. Além do saque dos produtos, os manifestantes também destroem fábricas e isto é muito mais grave", disse à comunicação social Silvino Moreno, ministro da Indústria e Comércio de Moçambique, após visitar estabelecimentos comerciais vandalizados em Maputo.
Moreno alertou para a aproximação de "momentos muito difíceis" em Moçambique devido aos impactos da crise pós-eleitoral, na qual se "duplica e multiplica" a destruição de supermercados, armazéns e outros estabelecimentos ao longo do país.
"Destruir não ajuda em nada, vamos passar momentos muito difíceis, vamos ter dificuldades sobretudo de alimentar e vestir a população e, porque estamos a destruir inclusive as fábricas, não vamos ter capacidade imediata de poder fazer a recuperação", acrescentou, classificando o saque e vandalização como um "desastre absoluto".
O ministro moçambicano manifestou tristeza e "desânimo absoluto" pelo que está a ocorrer no país, pedindo que a população coloque a mão na consciência e que o próximo Governo procure "medidas muito arrojadas" para apoiar as empresas, lojas e outros estabelecimentos afetados durante os protestos para que não se instale o caos no comércio.
"O Governo não tem como não se envolver nesse apoio para a recuperação (...). Vamos ter de encontrar alguma forma, mas é ainda prematuro pensar em coisas específicas", disse o ministro da Indústria e Comércio.
Moçambique vive desde segunda-feira uma nova fase de tensão social, na sequência de protestos contra os resultados das eleições gerais que culminaram com confrontos entre manifestantes e a polícia.
O Conselho Constitucional (CC) proclamou na segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.
Este anúncio provocou novo caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
Pelo menos 134 pessoas morreram desde segunda-feira nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique, elevando a 261 o total de óbitos desde 21 de outubro, e 573 baleados, segundo o último balanço feito pela plataforma eleitoral Decide.
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