Nicolás Maduro "terá enormes desafios pela frente, não somente provenientes de fora, mas também no âmbito doméstico, pois, para não perder o apoio de sua base social, terá de encontrar meios de contornar os constrangimentos, nomeadamente de origem externa, para o desenvolvimento económico do país", declarou o historiador Cristiano Pinheiro de Paula Couto, investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (UNL).
O Presidente Nicolás Maduro assume na sexta-feira o seu terceiro mandato presidencial, de seis anos e meio, quando a oposição -- liderada por Maria Corina Machado - afirma que houve fraude eleitoral e o verdadeiro vencedor do pleito é o candidato opositor Edmundo González Urrutia.
Vários países não validaram a vitória de Maduro e outros reconheceram mesmo Edmundo González como Presidente eleito da Venezuela, como os Estados Unidos, Argentina e Uruguai.
O historiador referiu que é comum a oposição conservadora venezuelana, após perder as eleições, declarar imediatamente fraude eleitoral, como está a acontecer em relação ao sufrágio presidencial realizado em 28 de julho.
Segundo Couto, apesar de todo o ruído da chamada comunidade internacional, "um conceito muito controverso, pois normalmente vem à baila para fazer passar um pequeno condomínio de países hegemónicos por uma maioria", Maduro tomará posse do mandato presidencial, após o resultado eleitoral ter sido "ratificado pelos órgãos competentes do seu país, designadamente pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE)".
A reeleição de Nicolás Maduro, segundo o académico, mesmo que impugnada pela "dita comunidade internacional", foi reconhecida por diversos países como a Bielorrússia, China, Rússia, Irão, Bolívia, Cuba, Nicarágua e Madagáscar.
Em relação ao valor democrático das eleições na Venezuela, Couto disse que pode ser visto de outro prisma, pois o país está sob o "assédio de inúmeras sanções e com vários ativos confiscados, inclusivamente as suas reservas de ouro na Inglaterra", o que enviesaria as condições da disputa política, condicionada por uma realidade económica resultante sobretudo de fatores externos, algo que pode corroer com facilidade a base social de qualquer programa político.
"A posse de Nicolás Maduro deverá ser um ato protocolar e institucional, consagrado pelos órgãos competentes do país, reconhecido por inúmeros países e apoiado pelo campo popular venezuelano, a base social não apenas do governo de Nicolás Maduro, mas de um processo político iniciado no começo dos anos 1990 e até agora perpetuado", sublinhou.
O historiador afirmou que a oposição, bastante desarticulada atualmente, mas não neutralizada, deverá incitar ações desestabilizadoras, com apoio inequívoco de aliados internacionais poderosos.
"Embora frustrada pelo Brasil, a tentativa de adesão da Venezuela aos BRICS na recente cúpula de Kazan (Rússia) não deverá obstar a aproximação do país caribenho aos seus parceiros da Eurásia, epicentro do dinamismo económico do século XXI, a locomotiva (...) do novo ciclo de desenvolvimento do capitalismo", frisou.
"Essa aproximação, com o desejo de ser fortalecida por alianças regionais, será fundamental para a Venezuela navegar na tempestade que virá logo após a posse daquele que, em poucos dias, será o novo homólogo norte-americano de Nicolás Maduro, ou seja, Donald Trump, cujo secretário de Estado a ser indigitado, Marco Rubio, é um famigerado seguidor da Doutrina Monroe", afirmou Couto, sublinhando que o país latino-americano estará no centro da política externa dos EUA.
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