"Em dois lugares do mundo ainda não perceberam que tudo mudou muito depressa: um é Bruxelas, que continua com a política e a retórica da guerra - deviam estar sóbrios, mas continuam a brindar à guerra -, por isso precisam de tempo para se adaptarem à nova situação", afirmou o ultranacionalista Viktor Orbán depois de se encontrar com o homólogo eslovaco, o populista de esquerda Robert Fico.
"O segundo [lugar] onde não repararam nas mudanças é Kiev", acrescentou Orbán, o dirigente da UE com melhores relações com a Rússia e o único a saudar a primeira vitória presidencial de Trump, em 2016.
O chefe do executivo húngaro classificou como "má notícia" que a UE mantenha o seu apoio económico à Ucrânia, para que se defenda da invasão russa, iniciada em fevereiro de 2022.
A UE aprovou em outubro de 2024 uma ajuda de 35 mil milhões de euros à Ucrânia, e existe uma proposta para destinar 50 mil milhões de euros de ajuda à Ucrânia para o período 2024-2027, combinando empréstimos e subvenções.
Além disso, a UE aprovou, em junho de 2024, o envio de 1,4 mil milhões de euros para a Ucrânia provenientes dos lucros gerados por bens financeiros russos congelados.
"É do nosso interesse que a guerra acabe em 2025 e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que a paz reine na Europa quanto antes", afirmou também Orbán, que é a favor da negociação de um cessar-fogo com a Rússia, mesmo que isso implique a cedência pela Ucrânia do território ocupado pelas forças de Moscovo durante a invasão.
"Manter as sanções [impostas pela UE à Rússia] também é uma má notícia - temos perdido milhares de milhões por causa dessas sanções", prosseguiu Orbán, referindo-se às quase 20 sanções económicas em vigor contra Moscovo.
O primeiro-ministro húngaro também considera negativo para o seu país o corte da passagem de gás pela Ucrânia, uma decisão tomada unilateralmente pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e que Bratislava e Budapeste hoje criticaram.
Tanto Orbán como Fico congratularam-se com os decretos presidenciais assinados por Trump no dia da sua tomada de posse, segunda-feira, de entre os quais o governante húngaro destacou a contenção da imigração e a abolição das políticas públicas para pessoas transgénero.
"No mundo ocidental, a partir de ontem (segunda-feira), somos a maioria que tem ideias que significavam isolamento anteontem, e hoje se tornaram 'mainstream', na tendência principal da história", sublinhou Orbán.
O primeiro-ministro eslovaco avisou que é intenção da sua coligação governamental, formada por populistas, social-democratas e ultranacionalistas, alterar a Constituição da Eslováquia para declarar a existência de apenas dois sexos, regulamentar a adoção de crianças e rever os programas escolares, para os alinhar com os princípios tradicionais da Constituição, onde o casamento também já está definido exclusivamente como a união de um homem e uma mulher.
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