Morte de Aga Khan. Há um antes e um depois do príncipe Karim

O especialista em religiões Paulo Mendes Pinto afirmou hoje haver no mundo ismaelita um antes e um depois do Aga Khan que morreu na terça-feira em Lisboa, cuja importância foi muito além do seu papel religioso e político.

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© Max Mumby/Indigo/Getty Images

Lusa
05/02/2025 15:59 ‧ há 2 horas por Lusa

Mundo

Aga Khan

Segundo o investigador da Universidade Lusófona, o príncipe Karim al Hussaini, 49.º imã hereditário dos muçulmanos ismaelitas, um ramo dos xiitas, foi muito importante também pela sua capacidade de projetar a comunidade no mundo.

 

Explicou que os ismaelitas acreditam que o líder da sua comunidade, com o título de Aga Khan, é descendente direto do profeta Maomé e, como tal, "tem dons proféticos (...), usando uma linguagem mais cristã".

"Ele tem a capacidade de liderar a comunidade, não simplesmente porque é descendente do profeta, mas porque, por isso, ele, efetivamente, tem uma leitura do tempo e tem uma capacidade de ler o tempo e de dirigir a comunidade de forma mais perfeita", acrescentou.

Daqui resulta que o Aga Khan é, não "apenas o líder religioso e espiritual, é de facto, o líder político", sendo tratado pelos ismaelitas "por sua alteza como se fosse um monarca com território e tudo".

No caso do líder que morreu na terça-feira aos 88 anos, foi alguém "de uma habilidade tremenda" ao nível de política internacional.

"Soube posicionar, quer em termos de diplomacia, quer também em termos de negócios, (...) a comunidade no tabuleiro internacional, fundamentalmente através de algumas instituições que criou", como a Fundação Aga Khan e a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN), ligadas à valorização do património, ao diálogo inter-religioso, ao microcrédito, ao apoio a nível da saúde, educação e ambiente, entre outras atividades.

"Portanto, o mundo ismaelita antes e depois deste Aga Khan, do príncipe Karim, é completamente diferente", disse Paulo Mendes Pinto, acrescentando que "hoje em dia, em todo o mundo, o mundo ismaelita é respeitado, é literalmente desejado, porque se apresenta como uma das principais entidades a trabalhar em prol do desenvolvimento, do apoio aos mais desfavorecidos (...) nos recantos mais inóspitos do mundo, como o caso do Paquistão, por exemplo".

"Este Aga Khan colocou os ismaelitas como uma referência central em termos de uma diplomacia do diálogo, de uma diplomacia para o desenvolvimento", adiantou.

Os ismaelitas, cerca de 15 milhões em todo o mundo, serão "uns 10 mil no máximo" em Portugal, "um quinto ou um sexto" do total dos muçulmanos e quase a totalidade da minoria xiita.

Em relação a estes, o especialista disse que, "em termos teológicos, culturais, há uma aproximação bastante grande (...) a algumas figuras teológicas iranianas, mas não há uma aproximação ao poder político".

O xiismo é a religião oficial da República Islâmica, professada pela quase totalidade dos cidadãos.

O Coordenador da área de Ciência das Religiões na Lusófona assinalou, no entanto, que "os ismaelitas têm uma característica" que, "para muitos muçulmanos, culturalmente mais fechados", quer sunitas quer xiitas, "não é bem vista (...): a sua ocidentalização"

A comunidade ismaelita é "percentualmente muito significativa" em Portugal devido à "herança histórica da relação com a Índia e com Moçambique (...) que fez com que no pós-25 de abril muitos viessem para cá", referiu.

O mesmo aconteceu depois do Imamat Ismaili, a "entidade supranacional" que os representa, ter sido instalado em Portugal, na sequência do acordo assinado em junho de 2015.

Discreto, tido como uma das pessoas mais ricas do mundo, Aga Khan IV nasceu a 13 de dezembro de 1936 na Suíça, cresceu e estudou no Quénia e nos Estados Unidos, onde se licenciou em Harvard, e tem ligações ao Canadá, Irão e França, além de Portugal.

O sucessor é nomeado pelo próprio em testamento, a abrir 24 horas após a sua morte, e recairá sobre um dos três filhos homens: Hussain, Rahim e Aly.

Paulo Mendes Pinto indicou não prever qualquer "alteração significativa" quer "em termos da sucessão propriamente dita", quer "na linha que vai ser seguida" pelas várias instituições da comunidade.

Leia Também: Comunidade Israelita recorda Aga Khan: "Liderança longa e exemplar"

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