"O número de ataques à central de Zaporijia está a aumentar. Falamos sobre isso em cada um dos nossos relatórios", disse Grossi no final de conversações em Moscovo com o chefe da agência nuclear russa Rosatom, Andrei Likhachev.
Grossi, que visitou a Ucrânia durante a semana, disse que "a situação não tem precedentes, uma vez que a maior central da Europa se encontra no epicentro de ações militares", de acordo com a imprensa russa, citada pela agência espanhola EFE.
O diplomata argentino referiu que os esforços da AIEA se destinam "a evitar um incidente nuclear com consequências graves".
Disse também que a agência especializada da ONU continuará a trabalhar para "garantir a estabilidade" da central de Zaporijia.
Quanto aos responsáveis pelos ataques, disse que os pequenos fragmentos de plástico e de madeira provenientes dos 'drones' envolvidos não permitem determinar a origem dos engenhos.
"No entanto, gostaria de assegurar que esta questão está a ser tratada por mim ao mais alto nível em consultas internacionais", acrescentou.
A Rússia tem apelado constantemente a Grossi para que reconheça que os ataques têm origem na Ucrânia e que Kiev está a pôr em perigo as centrais nucleares.
Likhachov avisou que "o risco de ataques do exército ucraniano está a aumentar, o que se verifica no número de 'drones' e 'rockets' abatidos, e também no número de projéteis que atingem o território da central, o que é motivo de preocupação".
Disse que informou Grossi sobre as medidas adotadas pelo lado russo para garantir a segurança nuclear da central de Zaporijia, que foi tomada pelas tropas russas no início da guerra com a Ucrânia, há quase três anos.
Likhachov abordou igualmente a situação em torno da central de Kursk, parcialmente ocupada pelo exército ucraniano, e da central de Smolensk, também em território russo.
Durante a reunião, que teve lugar no museu "Atom" do VDNJ (o principal centro de exposições do país), foi também discutida a rotação dos inspetores da AIEA.
A Rússia decidiu suspender a rotação, argumentando que a AIEA propôs alterações de última hora que colocavam os seus funcionários em sério risco.
Ambas as partes autorizaram a presença de inspetores na central nuclear, mas Kiev exige que estes cheguem às instalações através do território ucraniano, o que implica atravessar a linha da frente.
A Ucrânia tem 15 reatores nucleares operacionais em quatro centrais que produzem cerca de metade da eletricidade do país, segundo a Associação Nuclear Mundial, numa atualização referente a dezembro de 2024.
A Ucrânia sofreu o pior acidente nuclear de sempre em 1986, na central de Chernobyl, quando ainda integrava a União Soviética.
Chernobyl tem três reatores desativados e os destroços do que sofreu o acidente foram selados com um sarcófago.
A guerra em curso foi desencadeada pela invasão russa da Ucrânia ordenada em fevereiro de 2022 pelo Presidente Vladimir Putin para "desmilitarizar e desnazificar" o país vizinho.
Desconhece-se o número de vítimas civis e militares em quase três anos de combates, mas diversas fontes, incluindo a Organização das Nações Unidas, têm admitido que será elevado.
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