"Longe de fazer um espetáculo e simplesmente falar perante as câmaras, Teerão procura um acordo sério e justo", disse Ali Shamkhani, conselheiro do líder supremo, Ali Khamenei, o principal decisor em questões sensíveis do país.
As negociações em Omã, as primeiras desde 2018, decorrem após semanas de guerra de palavras entre os Estados Unidos e a República Islâmica do Irão, que procura o fim das sanções impostas por Washington.
A tensão verbal incluiu a ameaça do Presidente norte-americano, Donald Trump, de recorrer à opção militar em caso de fracasso e de novas sanções contra o programa nuclear e o setor petrolífero do Irão.
Na quinta-feira, Ali Shamkhani reagiu, advertindo que "ameaças externas contínuas" podem levar a "medidas dissuasoras, incluindo a expulsão de inspetores da AIEA [Agência Internacional de Energia Atómica] e o fim da cooperação".
A expulsão dos inspetores internacionais constituiria "uma escalada e um erro de cálculo", segundo Washington, tendo o Presidente norte-americano avisado, nas ameaças, que uma eventual ação militar seria liderada por Israel.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que adotou uma linha muito dura contra o Irão, considerou uma opção militar contra a República Islâmica como a única possibilidade se as negociações se arrastarem.
O formato e a duração das reuniões em Omã continua por esclarecer. O Irão disse estar aberto a negociações indiretas e recusa qualquer diálogo direto sob pressão.
Trump anunciou negociações diretas, lideradas pelo enviado dos Estados Unidos para o Médio Oriente, Steve Witkoff, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi.
Já hoje, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, insistiu que o Presidente norte-americano acredita firmemente na diplomacia conduzida "através de conversas diretas, falando diretamente na mesma sala".
O objetivo final das negociações com Teerão é "garantir que o Irão nunca poderá obter uma arma nuclear", afirmou Leavitt, adicionando que a República Islâmica precisa de fazer uma escolha, entre "aceitar as exigências do Presidente Trump ou o inferno".
Durante décadas, os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, suspeitaram que o Irão ambicionava possuir armas nucleares, embora Teerão negue e alegue que as atividades estão limitadas a fins civis.
O acordo de 2015 entre o Irão e as principais potências que regulava o programa nuclear iraniano em troca do levantamento das sanções internacionais foi interrompido depois de os Estados Unidos se terem retirado em 2018, durante o primeiro mandato de Donald Trump na Casa Branca.
De acordo com a agência de notícias iraniana Tasnim, as delegações deverão chegar a Omã no sábado e iniciar negociações indiretas à tarde, através do ministro dos Negócios Estrangeiros de Omã, Badr al-Busaidi.
"Estamos a dar uma oportunidade real à diplomacia, de boa-fé (...). Os Estados Unidos devem apreciar esta decisão, que foi tomada apesar da retórica hostil", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Majid Takht-Ravanchi, comentou que "se o lado americano não fizer exigências irrelevantes e deixar de lado as ameaças e a intimidação", há uma "boa hipótese" de acordo.
O Irão tem vindo a recuperar nos últimos meses dos reveses militares infligidos por Israel aos seus aliados, o movimento de resistência islâmica Hamas na Faixa de Gaza e o grupo xiita Hezbollah no Líbano.
Estes conflitos foram marcados por ataques militares recíprocos entre Israel e o Irão, pela primeira vez após anos de "guerra por procuração".
Berlim e a UE sublinharam a importância de se chegar a uma "solução diplomática".
Após a saída dos Estados Unidos do acordo, o Irão demarcou-se do texto e acelerou o programa nuclear.
Desde então, aumentou o nível de enriquecimento de urânio para 60%, muito acima do limite de 3,67% imposto pelo entendimento, aproximando-se do limite de 90% necessário para fabricar uma bomba atómica.
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