"As autoridades ganesas não protegeram os direitos humanos de centenas de vítimas acusadas de feitiçaria e de rituais que as obrigaram a fugir das suas comunidades, temendo pelas suas vidas", afirma a Organização Não-Governamental (ONG) Amnistia Internacional, num novo relatório.
Segundo a organização, as acusações, que podem conduzir a ameaças, agressões físicas ou mesmo à morte, começam frequentemente no seio da família ou entre os membros da comunidade após um acontecimento trágico, como uma doença ou uma morte.
As mulheres idosas que vivem na pobreza, com problemas de saúde ou deficiências, estão mais expostas a riscos, assim como aquelas que não se conformam com os estereótipos dos papéis de género, explica a organização no relatório.
"As acusações de feitiçaria e os abusos conexos violam os direitos de todas as pessoas à vida, à segurança e à não discriminação", afirmou a investigadora principal da Amnistia Internacional, Michèle Eken, em comunicado, acrescentando que "esta prática profundamente enraizada e generalizada tem causado um sofrimento e uma violência incalculáveis".
Apesar da persistência da prática, a organização denunciou a inação do Governo do país na criação de um ambiente adequado para investigar e processar os ataques relacionados com a feitiçaria.
A diretora nacional da Amnistia Internacional no Gana, Genevieve Partington, defendeu que "as autoridades têm de aprovar legislação que criminalize explicitamente as acusações de bruxaria e dos rituais, incluindo medidas de proteção para potenciais vítimas".
O Governo do Gana, defendeu ainda Partington, deve conduzir uma campanha nacional de consciencialização a longo prazo, com "recursos adequados para desafiar as práticas culturais e sociais que discriminam as mulheres e os idosos, incluindo as acusações de bruxaria".
As mulheres acusadas de bruxaria no país da África Ocidental encontram pouco refúgio fora dos campos nas regiões norte e nordeste do país, controlados por líderes religiosos.
A organização denunciou ainda o fracasso das autoridades ganesas em assegurar condições de vida adequadas aos residentes destes campos, localizados em zonas remotas, onde as mulheres, na sua maioria idosas e extremamente pobres, são particularmente vulneráveis.
O relatório, que se baseia em pesquisas realizadas pela organização entre julho de 2023 e janeiro de 2025, observa também que, embora a crença na bruxaria, protegida pelo direito internacional, esteja enraizada em várias comunidades, a simples criminalização das acusações de bruxaria "não resolveria o problema".
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