A comissão parlamentar da Administração Interna entendeu que os limites à divulgação de pormenores das investigações criminais "criaram um vácuo de informação que permitiu a proliferação da desinformação", depois de três crianças terem sido mortas à facada em julho.
A lusodescendente Alice da Silva Aguiar, de 09 anos, foi uma das vítimas mortais. Dez pessoas ficaram feridas, das quais oito eram crianças.
O ataque na cidade de Southport, no noroeste de Inglaterra, chocou o país e desencadeou dias de tumultos violentos, depois de ativistas de extrema-direita terem explorado informações falsas, segundo as quais o autor era um requerente de asilo muçulmano.
Ao longo de várias noites, multidões atacaram alojamentos de imigrantes, bem como mesquitas, bibliotecas e centros comunitários, na pior onda de violência a que o Reino Unido assistiu desde os motins de 2011.
O autor dos crimes foi Axel Rudakubana, na altura com 17 anos, nasceu no Reino Unido, mas é filho de pais cristãos ruandeses. Em janeiro, foi condenado a uma pena de prisão perpétua, sem possibilidade de liberdade condicional durante 52 anos.
As regras do tribunal, destinadas a garantir julgamentos justos, impediram a polícia de corrigir a desinformação a circular na Internet e de nomear suspeitos com menos de 18 anos, pelo que a identidade do atacante foi omitida durante vários dias.
Uma mensagem na rede social X que identificava falsamente o agressor, publicado no dia do ataque, foi partilhada milhares de vezes e vista por milhões de pessoas, segundo o relatório.
A polícia só declarou que a informação era falsa no dia seguinte mas, mesmo assim, não divulgou o nome do agressor.
A deputada conservadora Karen Bradley, que preside à comissão parlamentar, afirmou que pessoas com más intenções "tentaram explorar a tragédia indescritível que se desenrolou em Southport" e que a desinformação contribuiu para enfraquecer a confiança na polícia e nas autoridades públicas.
"O sistema de justiça criminal terá de garantir que a abordagem à comunicação é adequada à era das redes sociais", salientou, num comunicado.
O relatório concluiu também que a polícia tem dificuldade em controlar o grande volume de conteúdos nas redes sociais e deve ter ajuda do governo "para monitorizar e responder às redes sociais a nível" do país.
A comissão parlamentar, composta por membros do Partido Trabalhista e da oposição, ouviu polícia, procuradores e especialistas e rejeitou a alegação de que as pessoas detidas durante os motins foram tratadas com mais severidade do que os ativistas ambientalistas ou antirracismo.
"Os participantes na desordem não foram alvo de um policiamento mais rigoroso devido às supostas opiniões políticas, mas porque estavam a lançar objetos, a agredir agentes da polícia e a cometer fogo posto", lê-se no relatório.
Mais de mil pessoas foram acusadas de atos de violência, que feriram 69 agentes da polícia.
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