"Temos estado a encontrar, a par com o exército libanês, um grande número de depósitos de armas e túneis em diferentes partes do sul do Líbano na nossa zona de operações", disse o porta-voz da Finul Andrea Tenenti.
Uma outra fonte da ONU, que pediu para não ser identificado, confirmou à Lusa que o grupo xiita libanês Hezbollah está a entregar as posições militares no sul do Líbano ao exército libanês, numa decisão surpreendente e inédita.
O grupo já transferiu pelo menos 190 de 256 postos militares na região sul para as mãos do exército libanês, de acordo declarações de um responsável do Hezbollah à imprensa local.
A retirada do grupo apoiado pelo Irão estava prevista no acordo de cessar-fogo assinado em novembro com Israel. No entanto, a rendição militar do Hezbollah, considerado em tempos mais poderoso que o exército libanês, foi sempre considerada improvável.
Esta operação mostra o estatuto enfraquecido do grupo, numa altura em que o Hezbollah se vê quase abandonado pelo Irão, o aliado e financiador histórico, especialmente agora que Teerão tem interesses maiores a defender nas novas negociações com os Estados Unidos, no sábado.
A decisão surgiu ainda na sequência da visita, na semana passada, da vice-representante especial dos EUA para o Médio Oriente, Morgan Ortagus, a Beirute durante a qual afirmou que o Líbano não ia receber qualquer tipo de ajuda internacional, incluindo para a reconstrução, até que o Hezbollah entregasse as armas.
A par do enfraquecimento do Hezbollah está também um reforço das forças militares libaneses e uma nova vontade política pelas mãos do novo governo reformista de Nawaf Salam e sobretudo pela presidência de Joseph Aoun, antigo chefe das forças armadas.
Tenenti disse à Lusa que, apesar do exército libanês ter estado sempre presente no sul do Líbano, a "situação politicamente era muito diferente", descrevendo agora um verdadeiro empenho para recuperar a soberania do Estado na região, com mais de 300 operações realizadas diariamente.
"Podemos dizer que agora vemos as autoridades libaneses, sob o novo Presidente e primeiro-ministro, e o exército libanês 100% dedicados a implementar a resolução 1701 [que prevê a retirada do Hezbollah do sul do Libano]", disse.
Enquanto isso, as forças israelitas continuam a violar o acordo de cessar-fogo através de bombardeamentos e da ocupação de parte do território libanês.
Na segunda-feira, o Presidente libanês afirmou que "a decisão de limitar as armas ao Estado foi tomada" e que "estão a ser trocadas mensagens com o Hezbollah para tratar da questão do monopólio estatal das armas".
O deputado do Hezbollah, Ali Fayyad, também afirmou que o grupo está pronto para apoiar reformas, uma marcada mudança de estratégia, confirmando que o movimento tenta reposicionar-se como um aliado do governo reformista numa aparente tentativa de manter a presença na política interna.
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