"É claro que tudo depende das próximas ordens do comandante supremo", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, referindo-se ao Presidente russo, Vladimir Putin, numa conferência de imprensa.
Na prática, o acordo esteve em causa desde a sua entrada em vigor, a 18 de março, uma vez que a Ucrânia só a ele aderiu a 25 de março e os ataques a infraestruturas energéticas prosseguiram sem interrupção desde o início da moratória.
Também não contribuiu para o seu prolongamento o violento bombardeamento com dois mísseis Iskander perpetrado no domingo pelo Exército russo na cidade ucraniana de Sumi, no qual foram mortas 35 pessoas e mais de 100 ficaram feridas.
Esse bombardeamento ocorreu precisamente na manhã do domingo de Ramos, quando se aventava a hipótese de um cessar-fogo em toda a frente de combate durante a celebração da Páscoa Ortodoxa.
Segundo o Kremlin, Putin ordenou imediatamente ao Exército que cessasse os ataques, após uma conversa telefónica com o homólogo norte-americano, Donald Trump, a 18 de março, mas fê-lo como um gesto de boa vontade, exigindo no mesmo dia o fim do fornecimento de armas ocidentais a Kiev como condição para a resolução do conflito.
Foi o próprio Trump que propôs este cessar-fogo nos ataques a infraestruturas energéticas como um primeiro passo para um cessar-fogo em terra, mar e ar, que ainda não foi alcançado.
A presidência russa informou então que Putin deu inclusive a ordem, nesse mesmo dia, para serem derrubados em pleno voo uns 'drones' (aeronaves não-tripuladas) que se dirigiam para alvos energéticos na região ucraniana de Dnipropetrovsk.
Os ataques de 'drones' ucranianos têm sido uma dor de cabeça para as defesas antiaéreas russas desde o ano passado, mas não impediram que a Rússia causasse grandes danos a depósitos e refinarias na Ucrânia.
Durante a primeira semana da trégua unilateral russa, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, insistiu que a trégua devia incluir todas as infraestruturas civis e enviou uma lista pormenorizada a Washington, exigindo um compromisso por escrito, ao qual Moscovo se opôs.
Por fim, após as negociações das delegações ucraniana e russa realizadas em separado com mediadores norte-americanos na capital saudita, Riade, Kiev aceitou suspender os ataques a infraestruturas inimigas, avisando, contudo, que o Exército ucraniano responderia de imediato a provocações russas.
Em seguida, Moscovo divulgou uma lista de infraestruturas energéticas que não podiam ser atacadas, em que se incluíam centrais nucleares, centrais hidroelétricas, gasodutos e oleodutos, depósitos de petróleo e refinarias, entre outras.
Nos termos da trégua, ela pode ser prolongada por acordo mútuo, mas também pode ser suspensa se uma das partes considerar que a outra violou os termos do documento.
De facto, a Rússia anunciou pouco depois da sua entrada em vigor reservar-se o direito de abandonar a moratória se as violações ucranianas continuassem.
Desde então, o Ministério da Defesa russo acusou Kiev de violar diariamente a trégua com ataques a infraestruturas no seu território, especialmente nas regiões de Kursk, Belgorod e Krasnodar, além das zonas da Ucrânia ocupadas pelas suas tropas.
O ataque mais grave foi, segundo Moscovo, o realizado pelos ucranianos à estação de bombeamento do gasoduto Turk Stream, que liga a Rússia à Turquia através do mar Negro.
Já no final de março, os russos atacaram infraestruturas de gás pertencentes à empresa pública ucraniana Naftogaz, numa "tentativa de minar a estabilidade energética do país", segundo Kiev.
Peskov voltou hoje a insistir que, enquanto os militares russos cumprem a ordem de Putin, o Exército ucraniano "viola diariamente" a moratória.
Desconhece-se se Putin discutiu na passada sexta-feira a trégua energética com o enviado dos Estados Unidos, Steve Witkoff, com o qual esteve reunido mais de quatro horas em São Petersburgo.
Washington criticou com especial dureza o ataque russo à cidade ucraniana de Sumi, uma condenação firme que Kyiv considerou em falta em anteriores ocasiões.
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