Na frente externa, as complicadas discussões em torno do nome definitivo para a vizinha Macedónia (Antiga república jugoslava da Macedónia, Fyrom, a designação provisória), a crescente tensão com a Turquia, no Mar Egeu, em torno de Chipre e agravadas com a recente detenção de dois militares gregos na zona da fronteira comum, para além da volátil situação no Médio Oriente e Norte de África, têm mobilizado a atenção dos decisores gregos.
"Em termos de prioridades, o que enfrentamos com a Turquia também envolvendo a questão de Chipre é mais importante, e digamos mais perigoso. Com a Fyrom trata-se de uma diferença típica entre Estados, mas que não implica confrontação", assinala Sotiris Rousos, professor associado no Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade do Peloponeso.
"Primeiro, os principais países da União Europeia, e ainda a Turquia pelas suas razões, abandonaram a perspetiva da adesão europeia. Ancara não se comporta como faria um candidato à adesão e o seu acesso à UE está hoje fora do horizonte".
A "relação ambivalente" entre Ancara e Washington é outro dado decisivo, e quando a Grécia parece possuir hoje menos capacidade para enfrentar a situação com o vizinho euro-asiático, mesmo que permaneça poderosa em termos militares. E a "escalada turca" na região é hoje uma questão central para Atenas.
"O Presidente turco Recep Tayyip Erdogan enfrenta um grave perigo com a questão curda na Síria e o seu envolvimento miliar, não se sabe se terá sucesso", precisa Sotiris Rousos, também com a função de supervisor académico do Centro de Estudos para o Mediterrâneo, Médio Oriente e Estudos Islâmicos.
Neste cenário, Sotiris Rousos considera que o objetivo de Ancara pode consistir em "forçar a Grécia a negociar", para de seguida apresentar um conjunto de reivindicações impossíveis de aceitar.
No entanto, sugere que uma eventual vitória militar de Ancara no norte da Síria, na sequência da operação contra as milícias curdas locais, pode tornar o país "mais flexível".
A redução da escalada entre a Turquia e a Grécia, na fronteira comum ou em torno dos ilhéus "disputados" do Egeu oriental, poderá ainda evitar uma "reação despropositada" de Atenas, que para além da questão particular de Chipre, está empenhada em outras frentes político-diplomáticas.
"A Grécia pode voltar a desempenhar uma função de liderança na europeização dos Balcãs ocidentais. Sérvia, Montenegro, Fyrom [Mcededónia] e Albânia estão em negociações com a UE ou querem acelerar o início da adesão. A Grécia tem todo o interesse em liderar esse processo", defende o académico.
Neste processo, o Governo de Atenas e de Skopje também se confrontam com fortes reações nacionalistas a nível interno na sequência das negociações sobre um nome definitivo para a ex-república jugoslava, e mesmo que esteja excluída uma confrontação militar direta entre os dois vizinhos balcânicos.
Na semana passada, diversas "ONG macedónias da diáspora" acusaram a Grécia de ter cometido "violações dos direitos humanos, crimes contra a humidade, crimes de guerra e genocídio" contra a minoria macedónia desde 1913, numa referência à "segunda guerra balcânica" que antecedeu a I Guerra Mundial.
Numa declaração conjunta à agência noticiosa estatal turca Anadolu, estas organizações, que contestam as negociações sobre o nome definitivo da Macedónia, criticaram a Grécia e as organizações internacionais pelas "décadas de disputa" entre Atenas e Skopje sobre o nome da antiga república jugoslava.
Na Grécia, em Atenas e Salónica, têm também decorrido protestos nacionalistas que contestam um eventual acordo sobre um nome definitivo, e mobilizando dezenas de milhares de pessoas. Mas nada de sério ocorre face ao vizinho do norte, garante o académico Sotiris Rousos, se comparado com os desafios vindos do leste, do lado da Anatólia.