"Não se pode falar em descontrolo", mas "situação é de sobressalto"

Marta Temido foi a entrevistada desta quarta-feira da 'Grande Entrevista', da RTP. Considerou a ministra que a situação de Lisboa e Vale do Tejo nos deixa em "sobressalto, que não nos deixa estar tranquilos", mas recusou a ideia de que a pandemia esteja descontrolada.

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Filipa Matias Pereira
01/07/2020 22:21 ‧ 01/07/2020 por Filipa Matias Pereira

País

Covid-19

Rejeitou Marta Temido, esta quarta-feira, no espaço da 'Grande Entrevista', a ideia de que a pandemia de Covid-19 esteja descontrolada na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT). A governante reagiu ainda às críticas de Fernando Medina, considerando que "não podemos dizer que as chefias da saúde pública são incompetentes". 

Perante os números de infetados na região de Lisboa e Vale do Tejo, explicou a ministra, "tem-se mantido um planalto". Falamos de "um planalto persistente" pelo facto de as autoridades de saúde estarem a ter "dificuldade em quebrar as cadeias de transmissão".

Pese embora haja "questões por responder" em Lisboa e Vale do Tejo, "não se pode falar em descontrolo", advogou. Para tal, teríamos de ter "um crescimento exponencial e reflexos em termos de sobreutilização do SNS".

Portugal foi sendo elogiado pelos congéneres pela forma como enfrentou os primeiros meses da pandemia de Covid-19. Esta primeira fase, considerou,"causou uma expectativa de que este fosse um problema eventualmente ultrapassado com maior facilidade do que realmente é".

Acreditou-se, acrescentou ainda, "que pudéssemos ter o país a responder de forma homogénea. Não é isso que está a acontecer". Na região de Lisboa e Vale do Tejo, por exemplo, a consequência, como vincou a governante, traduz-se na "dificuldade em retomar a atividade assistencial normal programada". 

Neste momento, "tem-se mantido uma percentagem relativamente constante de cerca 90% dos mesmos internados por Covid-19 em LVT" e o mesmo acontece "em relação aos cuidados intensivos".

Esse facto "leva-nos a manter, por precaução, a atividade de rotina suspensa na Área Metropolitana de Lisboa (AML) nestes cinco concelhos mais alerta e daí advém uma preocupação para todos como sociedade. É uma situação de sobressalto que não nos deixa estar tranquilos".

Questionada relativamente ao surgimento de surtos de Covid-19 em hospitais, assegurou a governante que este "é um fenómeno muito frequente, não só no nosso país, como internacionalmente".

Este facto poderá ser justificado pela "lógica de abordagem dos profissionais de saúde" no que diz respeito à realização de testes, "quer por alguma rotina, quer por serviços de saúde ocupacional", o que "leva a que haja uma especial vigilância".

Há ainda "regras definidas para que, antes de determinados procedimentos invasivos, os doentes sejam testados". A conjugação destes fatores "tem permitido encontrar situações assintomáticas, foi o que aconteceu no IPO de Lisboa", indicou. 

De acordo com os últimos dados do Instituto Ricardo Jorge, divulgados por Marta Temido, o RT - indicador de transmissibilidade - baixou em Portugal na última semana. Entre 24 e 28 de junho, era de 0,99 para o país. Mais concretamente, em Lisboa e Vale do Tejo era de 0,99, de 1,05 no Norte e de 0,92 no Alentejo.

Os surtos que têm sido registados nos bairros da capital permitiram às autoridades de saúde adquirir "uma aprendizagem no sentido de envolver uma força de trabalho para fazer rastreio de contactos, inquéritos epidemiológicos, resultados laboratoriais rápidos, e para pôr as pessoas em casa rapidamente e para as visitar rapidamente".

Neste trabalho pretende-se envolver "as autarquias, as forças de segurança, a Segurança Social, atores das comunidades locais quando necessário, para garantir que há meios para [que os infetados possam] permanecer naquele local e fazer o confinamento". É, pois, "fundamental que seja expandida [esta capacidade] para conter outro tipo de fenómenos de idêntica natureza". O trabalho "está a ser feito no terreno e vai ser intensificado nos próximos dias".

"Não optámos só por instituir um regime sancionatório para o incumprimento das medidas de saúde pública, por ter regras específicas para estas áreas em termos do que é a recomendação para que as pessoas se abstenham de contactos inúteis, optámos também por reforçar a saúde pública", indicou a governante, acrescentando ainda que, esta semana, há mais 30 médicos a fazer inquéritos epidemiológicos do que havia na semana passada.

"Temos 363 médicos de saúde pública no país. Não há mais"

Este número, 363 médicos, é "claramente pouco", como assumiu a ministra da Saúde. A idade média destes profissionais é de 59 anos, o que reflete o nível de envelhecimento dos médicos desta especialidade.

"É uma especialidade que tradicionalmente não era atrativa. Pela inexistência de contacto com o doente era considerada menos aliciante. Também pelas circunstâncias remuneratórias, por não haver determinadas compensações que há noutras especialidades. Era, das especialidades, uma das últimas a serem escolhidas", constatou. 

O Norte tem melhores recursos operacionais para saúde pública do que Lisboa e Vale do Tejo? Perante a questão, Marta Temido respondeu de forma perentória: “É um facto. Temos 38% dos médicos de saúde pública no Norte, 28% em Lisboa e Vale do Tejo. São números redondos". A capacidade de resposta é "sem dúvida" melhor no Norte do que no Sul. 

App anticovid

Depois de conhecida a posição da Comissão Nacional de Proteção de Dados, revelou a ministra com a pasta da Saúde que a entidade "veio fazer um conjunto de recomendações que será preciso acautelar, em termos de processo legislativo e de enquadramento da aplicação".

"Trata-se de algumas salvaguardas", como o facto de cada país "dever ter apenas um tipo desta app". Com efeito, "o Estado tem de tomar uma posição sobre se endossa esta aplicação ou uma outra".

"Estamos em crer que estamos no bom caminho e que este será [um instrumento] importante a auxiliar este trabalho de identificação de contactos”. Para tal, torna-se imperioso garantir que "as pessoas a utilizam” de forma voluntária e que "o SNS está preparado para responder perante a informação". "Não queremos ficar com a população perdida". 

Já quando à entrada em vigor da aplicação, Marta Temido "não tem previsão", mas "gostaria que fosse muito rapidamente” .

Críticas de Medina

Fernando Medina teceu duras críticas, esta semana, ao trabalho de chefias de saúde, tendo aliás precisado esta quarta-feira que as dirigia às entidades regionais.

Perante o tema, considerou Marta Temido que, "ao longo destes quatro meses, o Ministério, as autoridades de Saúde e a Direção-Geral da Saúde têm sido objeto de muita atenção, muito escrutínio e muitos reparos".

Se precisamos de maior eficiência? "Nisso estamos todos de acordo", assentiu a ministra, acrescentando ainda que não podemos "ter um uma leitura tão imediatista" perante um "conjunto de pessoas que têm procurado com as suas fragilidades dar a melhor resposta possível".

"Não podemos", no seu prisma, "dizer que as chefias do nosso país na área da saúde pública, que nos ajudaram a chegar até aqui, são incompetentes”.  

Garantiu a governante que se houver necessidade de fazer alterações, essas serão feitas. 

Segunda vaga no inverno?

Vários são os especialistas que apontam para que Portugal venha a sofrer uma nova vaga de Covid-19 no inverno. "Estamos obviamente preocupados com essa circunstância, que poderá não vir a verificar-se, mas que tudo leva a crer que se venha a verificar e que se possa verificar numa altura especialmente sensível, a altura da gripe”.

Portanto, continuou, poderemos ter "a circular não só o Sars-Cov-2 mas também o vírus da gripe, com alguma semelhança de sintomatologia que levará a uma maior dificuldade na identificação de casos e na separação dos casos que sejam de infeção por Covid-19. Estamos preocupados".

Neste sentido, as autoridades de saúde estão "a trabalhar em três linhas, desde logo no reforço da capacidade laboratorial. Precisamos de ampliar significativamente a nossa capacidade de testagem, aliás tem sido um dos sustentáculos da nossa ação para conseguir identificar mais cedo. Continuamos a estratégia, mas queremos ir mais além”.

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