"Governo desperdiçou o melhor mês para combater a pandemia"
Numa entrevista à SIC Notícias, Filipe Froes deixou várias críticas à atuação da DGS no caso que envolveu a Festa do Avante! e garantiu que o melhor mês para combater a pandemia teria sido agosto.
© Facebook / Filipe Froes
País filipe froes
O pneumologista e coordenador do Gabinete de Crise da Covid-19 na Ordem dos Médicos, Filipe Froes, esteve na noite de segunda-feira nos estúdios da SIC Notícias onde não só apontou o dedo à Direção-Geral da Saúde (DGS) no caso da realização da Festa do Avante!, como garantiu que o Governo perdeu uma grande oportunidade de combater a pandemia do novo coronavírus durante o mês de agosto.
Como a marcar o dia estava a realização da festa dos comunistas e o parecer da DGS para o evento, a entrevista arrancou com este tema.
Filipe Froes começou por revelar que, no dia 10 de agosto, "a Ordem dos Médicos emitiu um comunicado em que aborda a realização de eventos de massa", ou seja, um documento onde "não há discriminação de nenhum tipo de eventos de massa". E era isso que, segundo o médico, a DGS devia ter feito.
"A DGS o que deve fazer, até para se poupar a todos esses episódios a que nós temos assistido nos últimos dias, é uma legislação específica que inclua normativos de saúde pública que sejam claros, transparentes, uniformes e coerentes com o resto da política, aplicada a qualquer tipo de eventos de massas, de acordo com a avaliação de risco e o nível de atividade epidémica no momento", explicou o pneumologista, considerando que o que a DGS fez foi precisamente o contrário.
"O que a DGS fez foi uma medida avulsa para a Festa do Avante! que acabou por funcionar mal para os dois lados. O PCP sente-se prejudicado e as outras pessoas, que agora tiveram acesso ao parecer, acharam que havia um benefício. Portanto, não foi bom para nenhuma das partes e mais, medidas avulsas não resolvem nada", frisou Filipe Froes.
Ainda sobre o Avante!, o coordenador do Gabinete de Crise da Covid-19 na Ordem dos Médicos enumera três momentos em que entende que a DGS "não esteve bem".
"Primeiro teve um trabalho imenso a fazer um conjunto de medidas avulsas, que eu já li, e que me parece que seria certamente um bom substrato para um documento uniforme para todos os eventos de massas. Portanto, perdeu uma oportunidade de ter um documento uniforme, que a punha ao recato de toda a crítica e dava, efetivamente, o exemplo. Segundo, teve uma atitude inexplicável e incompreensível de entender que nem todos os pareceres não devem ser públicos [...]. E depois, há um outro aspeto que me parece que também não funcionou bem e que é muito frequente. Nós assistimos a muitos pareceres, mas depois a DGS admite que não tem condições nem para acompanhar a implementação das medidas nem para fiscalizar o seu cumprimento. Não vale a pena haver legislação, se não houver acompanhamento da sua execução e fiscalização do seu cumprimento", fez sobressair Filipe Froes.
Já em relação ao número de testes que estão a ser realizados, o médico especialista garantiu que o Governo devia ter aproveitado o mês de agosto para dar prioridade à identificação de casos assintomáticos.
"O Governo desperdiçou o melhor mês para combater a pandemia [...]. Temos de ter capacidade de fazer testes o mais precocemente possível. Temos de ter os recursos humanos e técnicos para rapidamente identificar os casos, fazer testes nas primeiras 12 horas, fazer o rastreio desses casos, identificar os contactos de alto risco e testar todos os contactos, mesmo que não tenham sintomas", reiterou.
Sobre a implementação da Situação de Contigência em todo o território continental, a partir do dia 15 de setembro, Filipe Froes explicou que a vantagem desta medida é "criar um contexto normativo e legislativo que favorece a implementação mais rápida e mais célere de várias medidas", mas salientou que uma das regras sanitárias que Portugal já deveria estar a equacionar é a utilização de máscaras na rua.
"Em breve vamos ter outros vírus em circulação e as máscaras também têm eficácia para esses vírus. Tudo o que pudermos fazer para diminuir o impacto, maximizar a resposta e ganhar reserva, é obrigatório fazer, tudo é legítimo", defendeu.
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